tag:blogger.com,1999:blog-47812150245423773222024-03-14T04:16:26.785-03:00Ciências e AdjacênciasRoberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.comBlogger56125tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-70200291902400829902020-03-29T15:14:00.000-03:002020-03-31T20:00:28.870-03:00Por que fazer a quarentena da população?O motivo da quarentena é que o perigo do coronavírus não vem da sua letalidade, que não é tão alta (morrerão 0,39% dos infectados abaixo de 60 anos de idade e 1,33% dos acima de 60, segundo uma <a href="https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.09.20033357v1" target="_blank">projeção recente</a>). O perigo é que ele é extremamente contagioso e resiste dias inteiros preso em superfícies e em perdigotos no ar. Por isso, <b>não são suficientes os tradicionais cuidados básicos (ainda que necessários!)</b>, que funcionam tão bem para tantas doenças mais comuns, como lavar as mãos. Sem intervenções mais drásticas, quase todo mundo seria infectado de uma forma ou de outra. E aí, <b>com muitíssima gente doente, mesmo uma pequena letalidade causa uma quantidade enorme de mortes</b>. Esse é o problema.<br />
<br />
De fato, segundo uma recente simulação em computador a partir do que já se sabe sobre o vírus, quase toda humanidade seria infectada se não houvesse nenhuma intervenção: seriam 7 bilhões de doentes de um total de 7,7 bilhões de pessoas no planeta. <a href="https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf" target="_blank">Esse estudo</a> é do grupo do infectologista britânico Neil Ferguson. Ora, com as taxas de letalidade acima, isso dá nada menos que 40 milhões de mortes. Para o Brasil, cerca de 1,15 milhão. <br />
<br />
Para se ter uma ideia, 40 milhões é um pouco menos do que o total de mortes da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais mortífero da História (que matou cerca de 60 milhões). Só que essa guerra durou seis anos, de 1939 a 1945. Ou seja, <b>o covid-19 é capaz de matar numa velocidade várias vezes maior do que a média da pior guerra de todos os tempos</b>.<br />
<br />
<b>Isso causaria também um efeito econômico devastador em todos os setores, especialmente entre os pequenos - pequenos comércios, pequenas empresas</b>.<br />
<br />
Mas isso, se nada for feito. E o que fazer? Atacar justamente aquilo que faz o vírus ser tão letal, que é eu contágio extremo. E como deter o contágio? Respeitando os cuidados básicos que as autoridades de saúde estão divulgando (muita atenção para esses cuidados!) e restringindo a proximidade entre as pessoas - pois é por aí que se dá o contágio. <br />
<br />
Daí a estratégia do distanciamento social - a restrição de parte dos contatos entre as pessoas. Inclusive de crianças, pois, apesar de elas raramente desenvolverem os sintomas, transmitem o vírus para outras pessoas.<br />
<br />
<br />
<b>Mas funciona?</b><br />
<br />
Segundo as últimas pesquisas, sim. De fato, no dia 16 de março cada pessoa infectada em Sâo Paulo contaminava em média outras 6, segundo um <a href="http://www.butantan.gov.br/noticias/monica-bergamo-taxa-de-contagio-pelo-novo-coronavirus-cai-em-sp-depois-de-isolamento-diz-instituto-butantan" target="_blank">levantamento do Butantan</a>; no dia 20, contaminava apenas 3; no dia 25, apenas 2. A quarentena então está funcionando.<br />
<br />
<a href="http://www.jornaldaciencia.org.br/edicoes/?url=http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/2-estudo-mostra-que-medidas-drasticas-de-controle-implementadas-na-china-mitigaram-expansao-da-covid-19/" target="_blank">Outro estudo</a>, publicado na revista <i>Science</i>, encontrou correlações entre o confinamento feito na China e o sucesso no combate às infecções naquele país, mostrando que essa estratégia é eficiente.<br />
<br />
O grupo do Ferguson fala em salvar vidas. <a href="https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/27/quarentena-pode-salvar-ate-1-milhao-no-brasil-calcula-imperial-college.htm" target="_blank">Sua pesquisa</a> (a mesma citada acima) estimou que uma redução de 45% dos contatos sociais pode diminuir o número de mortos no Brasil de 1,15 milhão para 620 mil, salvando assim 395 mil vidas. Uma restrição maciça, de 75% dos contatos, pode reduzir para 44 mil mortes, salvando mais de 1,1 milhão de vidas.<br />
<br />
O problema do confinamento é que ele causará muitos problemas econômicos, especialmente para micro e pequenas empresas, para o pequeno comércio e para as pessoas mais vulneráveis. Mas a alternativa é sombria. Especialmente para esses setores. Assim,<b> o que é necessário não é suspender o confinamento, mas sim programas do poder público para ajudar esses setores</b>.<br />
<br />
De qualquer forma, para avaliar que estratégia usar, nada melhor do que a experiência e o conhecimento dos cientistas, médicos e infectologistas. É com base nisso que está sendo proposto o confinamento. Sigamos as <a href="https://coronavirus.saude.gov.br/" target="_blank">recomendações do ministério da Saúde</a>.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-65992742977589417822013-10-18T11:38:00.002-03:002013-10-19T11:18:23.015-03:00Nanociência contra o câncer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.nature.com/srep/2013/131007/srep02887/fig_tab/srep02887_F5.html" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-bWRac-TOQ4Q/UmFKjzQZLbI/AAAAAAAAAiE/N3PpsR6iPpM/s1600/Imagem-20131018(nanoparticulas+anticancer).jpg" /></a></div>
Sim, eis que a nanociência também pode servir ao combate ao câncer. Especialmente no caso de um dos tratamentos alternativos para essa doença, a <a href="http://saude.hsw.uol.com.br/hipertermia3.htm" target="_blank">terapia por hipertermia</a>, na qual as células cancerígenas são destruídas por superaquecimento, na casa dos 40 graus. Mata-se o câncer de "febre". Mas isso tem que ser muito bem localizado e controlado, para não matar células sadias junto. Por isso, cientistas têm tentado desenvolver métodos alternativos para a hipertermia baseados em nanociência.<br />
<br />
A ideia é sintetizar nanopartículas que se acumulam justo nas células cancerígenas e se aquecem quando submetidas a um campo magnético oscilante, matando então apenas as células malsãs. Nanopartículas são partículas com diâmetros de até algumas dezenas de nanômetros (um nanômetro é um milionésimo de milímetro). Muito pequeno: dez átomos de hidrogênio enfileirados já dão um nanômetro.<br />
<br />
As novas nanopartículas anticâncer têm potencial de serem mais seletivas (quer dizer, não matam as células sadias) e mais controláveis que os métodos tradicionais de tratamento por hipertermia. Bastaria que fosse injetado na pessoa um fármaco contendo tais nanopartículas e então aplicar um campo magnético variável próximo à região do câncer. Apenas as células cancerígenas se aqueceriam por causa do campo magnético oscilante e morreriam. <br />
<br />
O pessoal vem tentando identificar de que materiais as nanopartículas devem ser feitas para provocar o efeito desejado sem prejudicar o organismo e como controlar seus efeitos. Várias contribuições de diversos grupos de pesquisa ao redor do globo, pequenos tijolos que vão formando o todo, vêm sido dadas nos últimos anos. O assunto é conhecido como <a href="http://scienceblogs.com.br/balamagica/2009/06/saiba-o-que-e-hipertermia-magnetica/" target="_blank">hipertermia magnética</a>.<br />
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<b>O tijolo goiano</b><br />
<br />
Olhemos de perto um desses tijolos, para ver que cara tem o tipo de pesquisa feita nessa área. No mês passado, foi publicado um <a href="http://www.nature.com/srep/2013/131007/srep02887/full/srep02887.html" target="_blank">artigo</a> sobre isso por físicos da Universidade Federal de Goiás que <a href="http://www.sbfisica.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=507:nanoparticulas-magneticas-podem-atacar-tumores&catid=129:outubro-2013&Itemid=315" target="_blank">saiu com destaque</a> no boletim da Sociedade Brasileira de Física. Nanopartículas podem ser obtidas por reações químicas em laboratório, que provocam uma autoorganização espontânea dos átomos para formá-las. O grupo, de Andris Bakuzis, estudou nanopartículas de magnetita e de ferrita, que são dois materiais magnéticos (como ímãs). Quando deixadas suspensas dentro da água, sob condições propícias elas se juntam espontaneamente em pequenos filamentos (como na figura no início deste texto). <br />
<br />
O que esses cientistas conseguiram fazer, com estudos em laboratório e simulações por computador, foi identificar os parâmetros necessários para que essas nanopartículas se aqueçam até a temperatura correta. Esses parâmetros são o tamanho das partículas, o comprimento médio dos filamentos que elas formam e várias condições dos experimentos em laboratório.<br />
<br />
O tamanho das nanopartículas e dos filamentos, já se sabe razoavelmente como controlá-los no laboratório, então agora é só uma questão de descobrir quais devem ser exatamente esses tamanhos para a máxima eficiência no tratamento do câncer. Esse é então o próximo passo. Dizem os autores: "esperamos que este trabalho motive investigações
exploratórias sobre novas estratégias para otimizar a hipetermia
magnética, que pode ter um grande impacto no campo biomédico".<br />
<br />
<br />
<b>Teoria & experimento </b><br />
<br />
Fizeram mais. Propuseram também um modelo teórico preliminar para explicar quantitativamente o seu funcionamento. Explicações teóricas são um instrumento importante na pesquisa porque dão muitas ideias sobre que caminhos seguir nos passos seguintes dos estudos. A teoria e os experimentos sempre andam lado a lado. Além disso, com os modelos pode-se calcular valores, quando ainda faltam dados experimentais. O modelo construído pelos goianos discorda de avaliações preliminares para o tamanho ideal das partículas. <br />
<br />
Esse novo modelo teórico, porém, também não está completo. Os próprios cientistas afirmam no artigo que ele tem limitações e que são necessárias mais pesquisas para construir teorias mais sofisticadas. Então, aperfeiçoá-lo é outra tarefa para as próximas pesquisas. <br />
<br />
Isto que descrevi aqui foi uma fotografia da ciência em pleno movimento. Novos passos virão, de várias direções, até que a hipertermia magnética esteja disponível como mais uma frente no combate ao câncer. Mas sempre lembrando que a prevenção é o melhor remédio. Sem ela, nem mesmo as tecnologias mais sofisticadas poderiam vencer.<br />
<br />
O artigo comentado aqui é assinado por cinco pesquiadores da UFG, mais um da UnB, um da Universidade Federal do ABC e um da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos.<br />
<br />
<br />
<i><b>Para saber mais:</b></i><br />
<br />
<a href="http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/do-laboratorio-para-a-fabrica/magnetismo-farmacologia-e-medicina" target="_blank">Magnetismo, farmacologia e medicina</a> (Carlos Alberto dos Santos, <i>Ciência Hoje</i>, 23/11/2007) - Sobre o uso de nanopartículas magnéticas na medicina, inclusive sobre o tratamento do câncer por hipertermia magnética.<br />
<br />
<a href="http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/do-laboratorio-para-a-fabrica/nanoparticulas-que-salvam-vidas" target="_blank">Nanopartículas que salvam vidas</a> (Carlos Alberto dos Santos, <i>Ciência Hoje</i>, 26/02/2010) - Sobre o uso de nanopartículas em geral na medicina.<br />
<br />
O <a href="http://www.nature.com/srep/2013/131007/srep02887/full/srep02887.html" target="_blank">artigo original</a> (de acesso aberto): Branquinho<i> et al., Scientific Reports</i> <b>3</b>, 2887 (2013). doi:10.1038/srep02887.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-37454223713823029672013-08-02T20:08:00.003-03:002013-08-07T23:39:01.709-03:00Inácio Pereira do Amaral: Um artífice açoriano em Minas Gerais<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-M3HD8V1kQto/UfwoAFhUMwI/AAAAAAAAAf4/-SVSgxPN0Lc/s1600/Conselherio+Lafaiete+-+Matriz-peq.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-M3HD8V1kQto/UfwoAFhUMwI/AAAAAAAAAf4/-SVSgxPN0Lc/s1600/Conselherio+Lafaiete+-+Matriz-peq.jpg" /></a></div>
Esta postagem é endereçada a historiadores da arte mineira do século XVIII.<br />
<br />
Encontrei acidentalmente, em um documento no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (especifico a seguir), citações a um artista ou artífice de Minas Gerais (Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete) do século XVIII, <i><b>Inácio Pereira do Amaral</b></i>. Como não achei quase nenhuma referência à atividade esse senhor em nenhum lugar (por exemplo, não consta do "Dicionário de Artistas e Artífices dos Séculos XIX e XVIII em Minas Gerais", de Judith Martins, e no mecanismo de busca do site do <a href="http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/" target="_blank">Arquivo Público Mineiro</a> só houve uma ocorrência, descrita mais abaixo), e como esses dados aparecem em uma fonte inesperada (um processo de ordenação sacerdotal de um neto do Inácio), creio que possa ser informação inédita. Então compartilho-a aqui para o caso de interessar a historiadores.<br />
<br />
<b>Sinopse da sua atividade de artífice:</b> Sargento-mor Inácio Pereira
do Amaral (N. 1698, Horta, ilha do Faial, Açores - F. Queluz, MG?) -
Pintor, escultor e ourives. Teve uma "fábrica com pretos e rapazes
pintores" em Ouro Preto, MG. Nessa cidade, pintou a Igreja Velha do Rosário
dos Pretos e uma imagem de São Jorge. Em Conselheiro Lafaiete, MG, pintou a
igreja da Matriz.<br />
<br />
Abaixo, uma discussão sobre a fonte que consultei; um resumo biográfico; e trechos relevantes do documento consultado.<br />
<br />
<i>Índice</i>:<br />
<ul>
<li><a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com.br/2013/08/inacio-pereira-do-amaral-um-artifice.html#degenere">O que são processos de genere</a></li>
<li><a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com.br/2013/08/inacio-pereira-do-amaral-um-artifice.html#biografia">Resumo Biográfico</a></li>
<li><a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com.br/2013/08/inacio-pereira-do-amaral-um-artifice.html#documentos">Documentos</a></li>
</ul>
<br />
<b>Fonte:</b> Processo <i>de genere</i> de João Bento Salgado (Queluz, 1797 - no índice do arquivo e na capa do documento, consta "1777"). Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, armário 5, pasta 769 (Inácio Pereira do Amaral era avô materno deste João Bento Salgado). As informações sobre as atividades de Inácio como artífice aparecem nos depoimentos de testemunhas que o conheceram. Vide seção "documentos" abaixo.<br />
<br />
<b><br /><a href="http://www.blogger.com/null" name="degenere"></a>O que são processos <i>de genere, vita et moribus</i>: </b><br />
<br />
Quando alguém se ordenava padre no século XVIII em Portugal e dependências, era preciso que passasse por três processos: um, para inventariar seu patrimônio, a fim de demonstrar que era suficiente para sua ordenação; dois, para assegurar a correteza de sua vida moral (<i>moribus</i>); três, para assegurar a "pureza" do seu sangue, ou seja, que era batizado e filho de pais casados e batizados e que não era descendente do que na época eram consideradas "raças infectas", nas palavras do formulário utilizado (negros, judeus, índios etc.). Esse terceiro processo, chamado processo <i>de genere,</i> era na verdade feito em estágios anteriores da ordenação. Ele possui informações riquíssimas para genealogistas, pois muitas vezes cita até os bisavós do habilitando (a maioria não era completa, pois a incúria para isso era grande na época). <br />
<br />
Para extrair os dados necessários, eram enviadas requisições para os locais competentes para que estes enviassem cópias das certidões de batismo e de casamento do habilitando, de seus pais e de seus avós. Também, eram enviadas requisições para as paróquias onde o habilitando e seus pais e avós residiram, a fim de tomar depoimentos de testemunhas que o conheceram, arroladas pelos párocos locais. Esses depoimentos muitas vezes fornecem dados biográficos preciosos sobre os ancestrais do habilitando e às vezes sobre suas redes sociais. No documento que consultei, esses testemunhos informavam sobre algumas atividades de artífice do avô materno do habilitando, o açoriano Inácio Pereira do Amaral. <br />
<br />
Os processos <i>de moribus</i> também possuem testemunhos, mas não tão ricos (em geral, apenas afirmam que o habilitando não é criminoso nem adúltero etc.). Os de patrimônio incluem cópias de diversos documentos, como de escrituras de terras; às vezes podem ser inferidas informações sobre o nível econômico do habilitando e de seus pais. <br />
<br />
Os processos <i>de genere</i> feitos em Minas Gerais estão depositados no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Os processos <i>de genere, de moribus</i> e de patrimônio estão encadernados juntos para cada titular. A grande maioria está em relativo bom estado (muito melhor estado que os livros paroquiais de qualquer arquivo brasileiro, por exemplo). Podem ser consultados no local sem agendamento. Não há índice informatizado, apenas de papel, alfabético, constando nome do titular, local e data. Cobre os séculos XVIII, XIX e parte do XX. Fica aberto <i>para pesquisa</i> de segunda a sexta das 13:30 às 15:00. Endereço: Rua Direita, 102, Mariana, MG. Fones: (31) 3557-1237 ou 3557-1351 (pode-se confirmar estes dados <a href="http://www.arqmariana.com.br/?page_id=16" target="_blank">aqui</a>). Outra fonte muito usada por genealogistas que esse arquivo contém são os processos matrimoniais ou de dispensa matrimonial de toda Minas Gerais, além de livros de batismo, casamento e óbitos da região ao redor de Mariana. Próximo ao arquivo fica o arquivo da Casa Setecentista, com documentos civis da região (testamentos, inventários etc.).<br />
<u><br />Mais informações </u>sobre processos <i>de genere</i> em: Villalta, Luiz Carlos. "A igreja, a sociedade e o clero". <i>In:</i> Resende, Maria Eugênia Lage de; e Villalta, Luiz Carlos (org.), <i>História de Minas Gerais: As Minas Setecentistas</i>, vol. 2. Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2007, pág. 25-57, especialmente pág. 25-28.<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.blogger.com/null" name="biografia"></a><b>Resumo biográfico de Inácio Pereira do Amaral</b><br />
<br />
O sargento-mor Inácio Pereira do Amaral nasceu em 22 de janeiro de 1698 na freguesia das Angústias, na vila de Horta, na ilha do Faial, Arquipélago dos Açores. Era filho do sapateiro Antônio Pereira e de Serafina Rodrigues, ambos também naturais da vila de Horta. Seus pais moravam no lugar chamado Porto Pim e tiveram pelo menos mais um filho além de Inácio, Francisco Pereira do Amaral.<br />
<br />
Dos Açores, Inácio foi ao Rio de Janeiro e depois a Ouro Preto, em Minas Gerais, onde morou desde o início da década de 1730, pelo menos, e, como pintor, pelo menos desde o início da de 1740. Ali, morava na frente da Igreja Velha do Rosário dos Pretos (não confundir com a atual Igreja do Rosário) e teve uma "fábrica" (uma oficina de pintura?) onde trabalhavam "pretos e rapazes pintores".<br />
<br />
Sobre seu ofício de pintor em Ouro Preto, testemunhas que o conheceram se lembraram, na década de 1790, de ele ter pintado a dita igreja Velha do Rosário dos Pretos e também uma imagem de São Jorge. Uma pequena amostra de um dos serviços menores que deviam povoar sua atividade ao redor desses outros mais notáveis aparece no Arquivo Público Mineiro, nos fundos públicos da Câmara Municipal de
Ouro Preto, onde consta uma <a href="http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/cmop/brtacervo.php?cid=698" target="_blank">solicitação</a> de Inácio Pereira do Amaral, datada de 18 de abril de 1744, "do pagamento de 35 oitavas e meia de ouro, referente à
pintura de 12 varas para os almotacés e de 5 para os vereadores". Já sobre sua vida particular, a única coisa transmitida pelos testemunhos é que costumava ir na procissão do Corpo de Deus. <br />
<br />
Em Ouro Preto, casou-se com Margarida do Nascimento (originária da mesma freguesia das Angústias nos Açores) e ali tiveram duas filhas: Maria do Ó, casada com o mercador Domingos da Silva Neves, e Teresa Angélica de Jesus, nascida em 19 de setembro de 1734. <br />
<br />
Quando Teresa ainda era criança, Inácio mudou-se para a freguesia do Campo dos Carijós (atual Conselheiro Lafaiete). Ali, as testemunhas que o conheceram se lembraram dele como pintor, escultor e ourives e também por ter pintado a igreja da Matriz do lugar (a imagem no início desta postagem mostra a fachada atual da igreja). <br />
<br />
Teresa casou-se em 6 de novembro de 1757 com o cirurgião português João Pinto
Salgado (estes tiveram o filho João Bento Salgado, titular do documento
consultado). Maria do Ó ficou em Ouro Preto com seu marido. Sobre essa família, veja-se também o <a href="http://www.arvore.net.br/trindade/TitBentoSalgado.htm" target="_blank">título "Bento Salgado"</a> de "Genealogias da Zona do Carmo", do cônego Antônio Trindade.<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.blogger.com/null" name="documentos"></a><b>DOCUMENTOS</b><br />
<br />
<b>1) Certidão de batismo</b><br />
<br />
Processo <i>de genere</i> citado, folha 55 (ver também <a href="http://culturacores.azores.gov.pt/biblioteca_digital/FAL-HT-ANGUSTIAS-B-1696-1727/FAL-HT-ANGUSTIAS-B-1696-1727_item1/P5.html" target="_blank">imagem do assento</a> original no site do Inventário Genealógico do Centro de Conhecimento dos Açores)<br />
<br />
Livro de batismos de Nossa Senhora das Angústias, vila de Horta, ilha do Faial, Açores, folha três, verso:<br />
<br />
<i>Inácio, filho de Antônio Pereira do Amaral [no original no site acima, está escrito "Antônio Pereira, sapateiro"], natural da vila de Horta do Faial, e de sua legítima mulher, Serafina Rodrigues, natural desta mesma vila, fregueses desta paroquial de Nossa Senhora das Angústias, do lugar do Porto Pim, nasceu aos vinte e dois do mês de janeiro do ano de mil seiscentos e noventa e oito e foi batizado por mim, o padre André Godinho Ribeiro, cura desta dita paroquial de Nossa Senhora das Angústias, aos vinte e oito dias do mês de janeiro do mesmo ano de mil seiscentos e noventa e oito. Foram padrinhos Inácio Fichar, filho de Ambrósio Fichar, e sua mãe, Maria de Almeida, mulher do mesmo Ambrósio Fichar, fregueses da Matriz do Salvador, desta vila, e nela moradores. E, em fé de verdade, fiz este termo, que assinei com testemunhas presentes: Bernardo Pereira, mercador, e Manuel Furtado, fregueses desta paroquial. E[u], nos mesmos vinte e oito dias do mês de janeiro de mil seiscentos e noventa e oito, o cura Tomé Godinho Ribeiro.</i><br />
<br />
<br />
<b>2) Excertos dos depoimentos das testemunhas:</b><br />
<br />
[folha 72v]<br />
<br />
<i><b>2.1) Depoimentos tomados em 9 de julho de 1796 na vila de Queluz, em casas de morada do reverendo vigário Fortunato Gomes Carneiro:</b></i><br />
<b><br /></b><u>João de Medeiros Teixeira</u><br />
Casado<br />
Natural da freguesia de São Paio de Perelhal, termo ou Comarca de Bom Mor[?], Arcebispado de Braga. <br />
Vive de sua agencia<br />
76 anos<br />
Morador nesta Freguesia<br />
<i>"[Conheceu] ao avô materno [Inácio Pereira do Amaral] com suas curiosidades de ourives [...] A razão que tem para disto saber é ser morador nesta freguesia há mais de 40 anos e de nela os conhecer [os pais e avós]"</i><br />
<br />
<u>Alferes José Pereira do Santos</u><br />
Pardo<br />
Solteiro<br />
56 anos<br />
Natural da freguesia de Ouro Branco<br />
Morador nesta vila<br />
Vive do seu negócio de fazenda seca<br />
<i>"[...] o avô, ouviu dizer que tinha muita habilidade e que pintara a Matriz desta Vila [...] A razão que tem para disto saber é que desde menino é morador nesta vila e nela os tem conhecido [...]"</i><br />
<u><br />Luis Ribeiro de Carvalhaes</u><br />
Branco<br />
Solteiro<br />
Vive de seu ofício de ferreiro<br />
73 anos incompletos<br />
Natural da freguesia de São Pedro da Lomba, Bispado do Porto<br />
<i>"[...] Conheceu, moradores nesta vila, os avós maternos [...] e lhe parece a ele, testemunha, que ambos eram naturais das Ilhas [...]"</i><br />
razão por saber: é morador antigo nesta vila<br />
<br />
<u>José Ferreira de Brito</u><br />
Branco<br />
Solteiro<br />
Procurador da Câmara nesta Vila<br />
Vive de sua agência<br />
67 anos<br />
<i>"[...] Conheceu somente a avó materna, dona Margarida do Nascimento, morando nesta Vila, onde faleceu [...] E a razão que tem para saber é ser morador antigo nesta Vila e conhecer os pais do habilitando ainda solteiros; e disse mais, que ele, testemunha, é natural e batizado na Freguesia de São João da Cruz, Arcebispado de Braga, Termo do Porto[...]"</i><br />
<br />
<u>Diogo Duarte</u><br />
Pardo casado<br />
Natural e batizado na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arraial das Congonhas do Campo, Bispado de Mariana<br />
Vive de comprar e vender<br />
56 anos<br />
<i>"[...] conhece o habilitando e os seus pais [...]"</i><br />
[razão para saber:morador antigo na freguesia]<br />
<br />
<u>Luís de Almeida</u><br />
Branco<br />
Casado<br />
Natural da freguesia de Santo Adrião de Vila de Óis da Ribeira, Bispado de Coimbra<br />
Vive de seu negócio<br />
74 anos<br />
<i>Conhece o habilitando e seus pais "e seu avô materno, o sargento-mor Ignácio Pereira do Amaaral; mal se entrelembra o conhecê-lo, porém conheceu muito bem a sua mulher, dona Margarida do Nascimento, e [sabe] que eram naturais das Ilhas [...] e o avô declarado com habilidade de escultor, pintor e ourives [...]"</i>[razão de o saber: ser morador antigo nesta vila]<br />
<br />
<u>Jose Ribeiro de Carvalhaes</u><br />
Branco<br />
Casado<br />
Natural e batizado na freguesia de São Pedro da Lomba, Bispado do Porto<br />
71 anos<br />
Vive de sua agência<br />
<i>"[...] E conhecera também os avós maternos [...] naturais das Ilhas, que tinha sido pintor segundo ouvira [...]"</i><br />
razão para saber: ser morador antigo nesta Vila e vizinho da terra de seu pai [do habilitando]<br />
<br />
<br />
[folha 46v]<br />
<br />
<i><b>2.2) Depoimentos de 15 de outubro de 1793 na vila de Horta, em casas de morada do ouvidor eclesiástico Francisco Inácio Xavier Whiton:</b></i><br />
<br />
<u>Antônia Margarida Teresa</u>, viúva de Matias Corrêa, natural e morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ser de sessenta e sete anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu os avós paternos do habilitando, o sargento-mor Inácio Pereira e sua mulher, mas que o pai dela, testemunha, chamado Francisco Pereira do Amaral, se correspondia com ele em razão de serem irmãos; e que ouviu dizer ao mesmo seu pai que o dito sargento-mor, seu irmão, casara nas Minas com uma mulher natural da dita freguesia das Angústias, mas que não tem notícia dos seus ascendentes [...]</i><br />
<br />
<u>Antônio da Rosa</u>, marítimo, natural e morador na freguesia das Angústias, de idade que disse ter de sessenta e nove anos <i>[...] Disse que conheceu ao sargento-mor Inácio Pereira do Amaral, natural da freguesia de Nossa Senhora das Angústias, em cuja freguesia o conheceu sendo solteiro, assistindo na casa de seus pais; mas que não tem lembrança do que vivia o mesmo avô do habilitando, o qual se embarcou para o Rio de Janeiro; mas que não conheceu à sua mulher mencionada neste artigo.</i><br />
<br />
<u>Teresa Josefa</u>,<b> </b>mulher de Pedro José, [palavra ilegível], morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, desta ilha, de idade que disse ser de sessenta anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu as pessoas mencioandas no artigo, mas que conhece algumas famílias com os cognomes de Pereira e Amaral, sem nota alguma que os inabilite passe o estado de sacerdotes [...]</i><br />
<br />
<u>Antônio Ferreira de Matos</u>, natural e morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ser de sessenta e três anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu as pessoas mencionadas neste artigo, mas que tem ouvido dizer que o dito sargento-mor Inácio Pereira do Amaral era irmão de Francisco Pereira do Amaral, morador que foi neste freguesia, a quem ele, testemunha, conheceu; e era sujeito de boa nota, sem coisa alguma em contrário [...]</i><br />
<br />
[Continuação dos depoimentos no dia 16]<br />
<br />
<u>Manuel José da Silveira</u>, marítimo, morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ser de setenta e três anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu as pessoas mencionadas no artigo, mas que conhece algumas famílias com os cognomes Amaral, sem nota alguma no seu procedimento [...]</i><br />
<br />
<u>O reverendo padre José Antônio</u>, clérigo subdiácono, natural e morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ter de sessenta e cinco anos, pouco mais ou menos<i> [...] Disse que alguma lembrança tem de conhecer Inácio Pereira do Amaral, o qual era irmão de Francisco Pereira do Amaral, naturais da paroquial de Nossa Senhora das Angústias; e que o mesmo Inácio Pereira se transportou para o Rio de Janeiro no estado de solteiro e por isso não sabe com quem casou nem se lembra da ocupação que tinha [...]</i><br />
<br />
<u>Antônio Dutra</u>,<b> </b>marítimo, morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ser de sessenta anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu ao nomeado Inácio Pereira do Amaral nem à sua mulher, mas que conheceu algumas famílias com os cognomes de Amaral, sem nota alguma na sua geração [...]</i><br />
<br />
<u>Pedro José Lopes</u>, marítimo, morador na freguesia de Nossa Senhora das Angústias, de idade que disse ser de sessenta e sete anos, pouco mais ou menos <i>[...] Disse que não conheceu o sargento-mor Inácio Pereira do Amaral nem sua mulher, mencionada neste artigo, mas que conheceu algumas famílias nesta vila com os cognomes de Amaral, sem nota, assim no seu procedimento como na sua geração [...]</i><br />
<br />
<br />
[folha 64]<br />
<br />
<i><b>2.3) Depoimentos de 14 de julho de 1796 em Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, em casas de morada do reverendo Dr. José Álvares de Sousa, vigário da vara desta vila e seu termo:</b></i><br />
<br />
<u>Custódio Álvares de Aráujo</u><br />
Natural do Arcebispado de Braga<br />
De presente morador nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto<br />
Vive de seu ofício de carpinteiro<br />
85 anos<br />
<i>"[...] Disse que haverá 56 anos que é morador nesta Vila Rica [...] Conheceu muito bem a Inácio Pereira do Amaral, casado com Dona Margarida do Nascimento, naturais das Ilhas e moradores defronte da Igreja Velha do Rosário; e haverá trinta para quarenta que se mudara aquela familia desta vila; e lhe consta que, tendo uma filha, saíra [com ela] pequena desta vila e que a casara no arraial dos Carijós com um cirurgião perlesa[?]; ignora o nome não só de sua sra. como do escolhido[?], por serem moradores fora desta vila [...]"</i><br />
<br />
<u>Jerônimo de Sousa Lobo</u><br />
Natural do Bispado do Rio de Janeiro<br />
De presente morador nesta Vila Rica na Freguesia do Pilar <br />
Que vive do jornal e trabalho de seus escravos<br />
70 anos<br />
<i>"[...] Conheceu muito bem nesta Vila Rica, haverá 60 anos, sendo ainda rapaz, ao Sargento-mor Inácio Pereira, [...] morador às portas do Rosário Velho dos Pretos da Freguesia do Pilar de Vila Rica, que vivia da sua arte ou ofício de pintor; e se lembra pintar a Igreja Velha do Rosário e que tem tindo[?] uma viva lembrança de pintar a São Jorge; que costuma ir à Procissão do Corpo de Deus, nesta vila; e lhe consta que tivera duas filhas, uma que a casara no Arraial de Carijós (nesse tempo; e hoje Vila de Queluz), que presume ser mãe do habilitando, e outra, nesta Vila, fora casada com Domingos da Silva Neves."</i><br />
<br />
<u>O capitão João Martins Maia </u><br />
Natural deste Bispado de Mariana<br />
De presente morador na Freguesia do Pilar desta Vila Rica<br />
Vive de seu ofício de ceregueiro[?]<br />
75 anos<br />
<i>"[...] Conheceu nesta Vila Rica, houvera 60 anos ou mais, o sargento-mor Inácio Pereira do Amaral, casado com uma mulher branca cujo nome ignora, morador que foi às portas do Rosário dos Pretos do Copunde[?] da Freguesia do Pilar desta Vila Rica; que vivia de ser pintor com a sua fábrica de pretos e rapazes pintores; e sabe mais, que tivera duas filhas e que conhecera muito bem a uma delas, chamada Maria do Ó, que fora depois casada com Domingos da Silva Neves, mercador, moradores que foram na paragem chamada Ouro Preto; e da outra irmã não sabe ele, testemunha, depois que se mudaram desta vila para o arraial de Carijós [...]"</i><br />
<br />
<u>Antônio Marques</u><br />
Natural do Bispado de Angra [Açores]<br />
Morador nesta Vila Rica na Freguesia do Pilar<br />
Vive do jornal de seus escravos<br />
78 anos<br />
<i>"[...] [conheceu] nesta vila, desde a era de 1751 anos, ao sargento-mor Inácio Pereira do Amaral, morador que foi na rua do Rosário dos Pretos da Freguesia do Pilar desta Vila, natural das Ilhas, casado, e que tinha familia; e vivia dos ofício de pintor; e que casara uma sua filha, cujo nome ignora, com Domingos da Silva Neves, que tinha a sua loja frenteira às casas do falecido Brás Gomes de Oliveira; e que o dito Amaral se mudara com a sua família para o arraial de Carijós [...]" </i><br />
<br />
<u>O Tenente Agostinho Soares</u><br />
Natural do Arcebispado de Braga<br />
Morador na Freguesia do Pilar desta Vila Rica<br />
Vive de sua lavoura e lavras de minerar<br />
81 anos<br />
<i>"[...] Conheceu o sargento-mor Inácio Pereira do Amaral, morador que foi no Rosario dos Pretos da Freguesia do Pilar desta Vila, casado, com família numerosa [...] vivia do seu ofício de pintor haverá 55 anos e que depois lhe constou mudar para o Arraial de Carijós com a sua família [...]"</i>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-44718395763345777202012-07-05T11:26:00.002-03:002012-08-17T11:02:19.480-03:00Bóson de Higgs: ajuda a jornalistas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-2Ji8MoMzXVI/T_WjxV7B7bI/AAAAAAAAAeM/61toKCdT1q8/s1600/220px-CMS_Higgs-event.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-2Ji8MoMzXVI/T_WjxV7B7bI/AAAAAAAAAeM/61toKCdT1q8/s1600/220px-CMS_Higgs-event.jpg" /></a></div>
É, parece que o tema do momento é o bóson de Higgs. No dia 04/07/2012, cientistas encontraram, no LHC, uma nova partícula que acreditam
ser o bóson de Higgs, pois parece se comportar de maneira consistente
com o que é esperado dele pela teoria. O problema é que boa parte dos textos "explicativos" encontrados por aí têm muitas partes pouco compreensíveis. Alguns amigos jornalistas me pediram ajuda; aqui vão algumas informações. <i>Elas não substituem os textos de referência; são apenas guias para se orientar melhor por eles.<b> </b></i><br />
<br />
<b>O que é o bóson de Higgs?</b> Também chamado bosão de Higgs, é uma <i>partícula subatômica,</i> tal como o próton, o nêutron ou o elétron. Mas, diferentemente do próton e do nêutron, que são formados por partículas ainda menores (são formados por três diferentes tipos de quarks cada um), o bóson de Higgs é uma <i>partícula "elementar",</i> ou seja, não tem constituintes mais básicos (outra partícula elementar é o elétron) - <span style="color: #0b5394;">P.S.17/08/12: há no entanto teorias alternativas nas quais o Higgs é composto. </span>Ela ainda não <span style="color: #0b5394;">havia sido</span> observada, mas sua existência é uma consequência natural do edifício teórico atual da física das partículas, chamado <i>Modelo Padrão.</i> Uma maneira curta de dizer isso é falar que o Modelo Padrão <i>"prevê"</i> sua existência.<br />
<br />
<b>Se o bóson de Higgs é uma partícula subatômica, ele faz parte dos átomos? </b>Não. Ele não existem "por aí", como elétrons e prótons. Na veradade, a maior parte das partículas elementares conhecidas não existe "por aí" nem faz parte dos átomos. Elas só aparecem quando são produzidas em reações envolvendo outras partículas, quando estas colidem entre si em energias muito altas. Elas "vivem" muito pouco, só durante o processo de colisão - em uma pequena fração de segundo, <i>"decaem"</i> em outras partículas. Então, tais partículas só se manifestam nesses casos. Assim é também o bóson de Higgs. Para produzi-las, os físicos usam os <i>aceleradores de partículas,</i> que realizam tais colisões muito energéticas (entre prótons e prótons, por exemplo).<br />
<br />
<b>Por que achar o bóson de Higgs é importante? </b>Para verificar se o Modelo Padrão, a teoria atual da física das partículas, está correto.<br />
<br />
<b>O que acontece se for provado que o bóson de Higgs não existe?</b> <i>Resposta curta: </i>Se o bóson de Higgs não existir, o Modelo Padrão não estará correto e teríamos que <strike>encontrar uma nova teoria</strike> modificá-lo bastante. Até aí, nenhuma diferença com qualquer outra previsão da teoria que venha a ser testada. Só que, no caso do bóson de Higgs, o buraco é mais embaixo. Pois a existência do bóson de Higgs está relacionada com princípios muito fundamentais que jazem na própria base da teoria. Se provarem que ele não existe, as consequências seriam catastróficas: a teoria preveria que a massa de todas as partículas - portanto, de toda a matéria conhecida - seria zero! Nesse caso, teriam que achar novos princípios e reconstruir tudo.<br />
<br />
<i>Resposta longa: </i>Como eu disse acima, o buraco é mais embaixo do que simplesmente verificar a previsão de uma teoria. O Modelo Padrão se parece mais com um conjunto de teorias com alguns princípios fundamentais comuns que as amarram, formando um todo harmônico e unificado, um edifício teórico portentoso. Se algumas das partículas previstas por ele não tivesse sido confirmada, bem, teriam que mudar coisas grandes no edifício, teriam que talvez trocar uma das teorias amarradas nele. Porém, o caso do bóson de Higgs é particularmente fatal. Ele <strike>é uma consequência</strike> está relacionado não a uma dessas teorias amarradas no Modelo Padrão, mas sim a um dos princípios fundamentais que subjazem na própria base de todo o edifício. O nome desse princípio é "simetria local de calibre". Trata-se de um conceito um pouco abstrato e para explicá-lo eu teria que
gastar um pouco mais de parágrafos; mas o importante aqui é que, <i>se o
bóson de Higgs não existir, esse princípio fundamental teria como
consequência automática que todas as partículas existentes tenham massa
zero (e portanto toda a matéria conhecida teria massa zero). </i>O que é evidentemente um
absurdo. Para "salvar" a teoria, foi proposto em 1964 um mecanismo teórico ("mecanismo de Higgs") com o qual as partículas adquiririam massa dentro da teoria. A existência do bóson de Higgs é uma consequência natural desse mecanismo. Assim, se for confirmado que o bóson de Higgs não existe <span style="color: #0b5394;">- e se não conseguirem construir nenhum outro "mecanismo teórico" que substitua o de Higgs (P.S. de 14/07/12) -</span>, não poderíamos usar a simetria local de calibre e a
teoria terá problemas <strike>estará inteiramente errada,</strike> no nível de seus princípios mais
básicos. <span style="color: #0b5394;">Possivelmente </span>teriam que encontrar outros princípios fundamentais para
reconstruir uma nova teoria. Partir quase do chão novamente. Daí o auê
em torno do bichinho.<br />
<br />
<b>O que acontece se a partícula encontrada no dia 04/07/12 não for o bóson de Higgs? </b>Então
terão que procurá-lo com outras massas. De qualquer forma, é
extraordinário que tenham encontrado uma partícula nova ainda não
prevista por nenhum modelo teórico. Sua existência teria que ser
explicada, o que poderia levar a desenvolvimentos teóricos bastante
excitantes. <br />
<br />
<b>O Brasil está envolvido nessas pesquisas? </b>Sim. Há 7 instituições brasileiras envolvidas nos experimentos que produziram
os resultados do dia 04/07 sobre a nova partícula: UFRJ, USP, UFJF, UFSJ,
UERJ, CBPF e UNESP. Vide a lista dos países e instituições em:<br />
<a href="http://cms.web.cern.ch/content/cms-collaboration">http://cms.web.cern.ch/content/cms-collaboration</a> (CMS)<br />
e<br />
<a href="http://atlas.web.cern.ch/Atlas/Management/Institutions.html">http://atlas.web.cern.ch/Atlas/Management/Institutions.html</a> (ATLAS)<br />
<br />
CMS
e ATLAS são dois grupos de pesquisa distintos que buscam o Higgs no
LHC. Há vários grupos de pesquisa lá. Uma lista desses grupos está aqui:<br />
<a href="http://lhc.web.cern.ch/lhc/LHC_Experiments.htm">http://lhc.web.cern.ch/lhc/LHC_Experiments.htm</a><br />
<br />
<b>Como os brasileiros participaram da busca pelo bóson de Higgs? </b>O anúncio do dia 04/07 é resultado da análise de milhões de dados colhidos pelo LHC ao longo de meses de funcionamento (vide item "Por que o LHC demorou tanto para encontrar o Higgs", abaixo). Esses dados foram analisados por computadores de dezenas de instituições em vários países, entre os quais o Brasil. É possível, porém, que haja
também profissionais e estudantes brasileiros participando diretamente
no próprio LHC das pesquisas.<br />
<br />
<b>Por que o LHC demorou tanto para encontrar o Higgs? </b>O anúncio da nova partícula no dia 04/07 não é resultado de um experimento simples realizado nos dias anteriores. Em um acelerador de partículas, partículas subatômicas colidem violentamente entre si, em velocidades muito próximas à da luz, para produzir partículas novas - entre as quais o bóson de Higgs, se as condições forem adequadas. Acontece que tais experimentos produzem resultados apenas estatísticos, e é preciso deixar o aparelho funcionando por bastante tempo, com muitas colisões ocorrendo, até que os dados estatísticos se acumulem o suficiente e adquiram um grau de certeza que satisfaça os padrões atuais da ciência. Para chegar aos resultados atuais, foi necessário deixar o LHC funcionando por meses a fio, produzindo milhões de dados. Esses dados devem ser analisados por computadores. Não só os do próprio LHC. Há dezenas de instituições espalhadas pelo mundo para analisá-los.<br />
<br />
<b>Por que os físicos dizem que o bóson de Higgs explica as massas das partículas subatômicas? </b><i></i>A teoria, se fosse desprovida do bóson de Higgs, preveria que as partículas subatômicas não teriam massa, o que é absurdo. Para resolver isso foi proposto o "mecanismo de Higgs", um artifício teórico que tem como consequência natural a existência dos bósons de Higgs. As massas surgem na teoria da seguinte forma: associado ao bóson de Higgs, existe um campo, o <i>"campo de Higgs",</i> análogo aos campos de força conhecidos (elétrico, magnético, gravitacional etc.), e que permeia todo o espaço. Interpretar fisicamente a matemática envolvida é um pouco complicado, mas, segundo a interpretação corrente, as partículas (que não teriam massa sem o bóson), adquirem-na interagindo com o campo de Higgs, como se este fosse um meio viscoso que atrasasse o movimento das partículas, emulando uma "inércia" para elas. Mas, espere, o que explica a massa é o <i>campo</i> de Higgs ou o <i>bóson</i> de Higgs? O campo de Higgs e o bóson de Higgs estão intextricavelmente ligados - na verdade, são dois lados, duas manifestações distintas da mesma realidade física (na teoria quântica, campos de força estão sempre associados a partículas desta forma - os campos elétrico e magnético, por exemplo, estão associados a fótons). Por isso, é possível falar que o próprio bóson "explica" as massas, ao invés de o campo de Higgs.<br />
<br />
Obs.: em uma versão anterior, eu tinha dito que achava a frase "o bóson de Higgs explica as massas das partículas" um tanto sensacionalista por não concordar com essa interpretação. Voltei atrás após alguns esclarecimentos.<br />
<br />
<b>Se for confirmado que a partícula que encontraram no dia 04/07/12 é mesmo o bóson de Higgs, então, terão "fechado" o Modelo Padrão?</b> Não. Na verdade, a teoria sobre o bóson de Higgs não está completa; falta parte da expressão matemática que o descreve e na verdade <i>não se sabe sequer se existe um ou mais bósons de Higgs.</i> Serão necessários mais experimentos para verificar se há mais deles por aí.<br />
<br />
<b>O LHC não é a única instituição procurando o Higgs.</b> Tem também o
Fermilab, nos EUA (seu acelerador chama-se "Tevatron"). Existe uma competição entre os dois. Os físicos dizem que não existe rivalidade, mas observe-se só esta matéria, publicada dois dias antes do anúncio do dia 04/07:
<a href="http://br.noticias.yahoo.com/eua-anunciam-mais-s%C3%B3lida-evid%C3%AAncia-b%C3%B3son-higgs-195858765.html">http://br.noticias.yahoo.com/eua-anunciam-mais-s%C3%B3lida-evid%C3%AAncia-b%C3%B3son-higgs-195858765.html</a><br />
<br />
<b>O que o LHC fará depois que for encontrado o bóson de Higgs? </b>O
LHC não foi construído só para procurar o bóson de Higgs. Os bósons de Higgs são apenas a
estrela da vitrine para os cientistas justificarem os US$ 9 bilhões
investidos (em 1993, um acelerador ainda maior, o SSC, foi cancelado nos
EUA porque os congressistas acharam que o preço não o justificava, e
isso deixou os cientistas traumatizados).Vejamos:<br />
<br />
Primeiro, o LHC também vem
testando as previsões de várias teorias que tentam ir além do Modelo
Padrão. E vai continuar testando depois. Por exemplo, entre as teorias testadas pelo
LHC, existe toda uma classe de teorias diferentes que prevêem a existência de um grupo
inteiro de partículas chamadas supersimétricas (a teoria das cordas é
uma delas). O LHC vem procurando essas partículas, mas não as tem
encontrado. Isso não significa que não existam, elas podem simplesmente ser
pesadas demais para o LHC.<br />
<br />
Segundo, o LHC pesquisa o que
acontece em colisões com energias nunca exploradas antes, e pode ser que
novos fenômenos imprevistos sejam encontrados (ou não). Na verdade, há motivos para se supor que o Modelo Padrão não seja a última palavra.
Para se construir uma teoria melhor, é preciso encontrar discrepâncias
entre as previsões do modelo e os resultados dos experimentos. Essas
discrepâncias guiarão os teóricos na construção da nova teoria.
Discrepâncias já foram encontradas, mas são poucas demais para que se
possa inferir uma nova teoria a partir delas. O LHC vem procurar mais
delas.<br />
<br />
<b>Mas, afinal, o que é o LHC? Como funciona? </b>O LHC um acelerador de partículas gerenciado pelo Centro Europeu de Pesquisas (CERN), situado exatamente na fronteira entre França e Suíça, perto de Genebra. Um <i>acelerador de partículas</i> é uma máquina serve para estudar experimentalmente a física das partículas (testar teorias ainda não totalmente confirmadas, investigar fenômenos novos, verificar se há discrepâncias com a teoria atual). Algumas partículas subatômicas existem por aí prontas para serem observadas, como elétrons, prótons, fótons e neutrinos. Mas a maior parte delas não; elas só aparecem fugazmente em reações envolvendo outras partículas (assim como em reações químicas, há substâncias que só aparecem fugazmente em estágios intermediários da reação). O bóson de Higgs é uma dessas partículas fugazes. Os aceleradores aceleram partículas a velocidades muito próximas da da luz e fazem-nas colidir violentamente umas com as outras. Isso provoca reações que produzem novas partículas. Essas partículas costumam "viver" pouco tempo - elas rapidamente decaem em outras partículas - e o que os detectores colocados ao redor do aparelho detectam são, na verdade, essas partículas "secundárias". Assim, <i>o bóson de Higgs não é detectado diretamente, o que é detectado são as partículas originárias do seu decaimento.</i> Para identificar a existência do bóson de Higgs, deve-se detectar as partículas observadas, medir suas massas, suas velocidades, e comparar com o que a teoria prevê. Se os dados forem consistentes com o que se espera do comportamento de um bóson de Higgs, então, opa, devemos ter comprovado que eles existem mesmo, apesar de não os termos visto diretamente.<br />
<br />
Os aceleradores de partículas não são o único modo de se pesquisar experimentalmente a física das partículas. O outro é a observação de raios cósmicos. A vantagem destes últimos é que com eles é possível observar partículas disparadamente muito mais energéticas que a dos maiores aceleradores (além disso, é muito mais barato). A desvantagem é que não dá para fazer experimentos controlados. O Brasil tem uma tradição na física de partículas com raios cósmicos, que remonta a Gleb Wataghin e a César Lattes.<br />
<b></b><br />
<br />
<b>Por que é tão difícil encontrar o bóson de Higgs? </b>Porque é uma partícula muito pesada. Para uma partícula ser produzida em uma colisão, essa colisão precisa ter energia suficiente, porque na maioria dos casos práticos a massa dessa partícula virá, em sua maior parte, da energia cinética de colisão (lembrando que a teoria da relatividade especial diz que energia pode ser transformada em matéria e vice-versa). Assim, quanto mais pesada a partícula, mais difícil produzi-la. Foram necessários US$ 9 bilhões para conseguir uma máquina que conseguisse acelerar partículas com energia suficiente para produzir a partícula observada no dia 4 - que é 134 vezes mais pesada que o próton.<br />
<br />
<b>Por que o LHC é tão grande? </b>Porque, quanto maior a massa da partícula que se quer produzir, maior tem que ser a energia das colisões. Logo, maior a velocidade das partículas que colidem. A velocidade, no caso do LHC, é tão grande que ainda não existe uma forma de obrigar as partículas a fazerem uma curva suficientemente fechada para sua trajetória caber em uma máquina pequena. Ele tem a forma de um anel. Foi necessário então metê-lo em um túnel subterrâneo circular de 27 quilômetros de comprimento.<br />
<br />
<b>O LHC pode acabar com o mundo? </b>Não. Esse mito surgiu porque algumas teorias sugerem a possibilidade dele produzir buracos negros microscópicos. Só que o tempo de vida de tais buracos negros seria de uma fração de segundo e não fariam nada com ninguém (talvez nem mesmo fôssemos capazes de detectá-los). Mas isso foi anunciado sem muito cuidado, o que assustou algumas pessoas e produziu um boato que depois adquiriu vida própria.<br />
<br />
<b>O que o bóson de Higgs tem a ver com Deus? </b>Nada. "Partícula de Deus" é apenas um apelido bem-humorado. A tradução em português não é muito boa (no inglês, "God particle" é mais "partícula-deus"). <br />
<br />
<b>O que são esses "GeV" e "TeV" de que os físicos falam? </b>Trata-se de unidades de <i>energia</i> adequadas para a física das partículas, mas são também usadas para medir <i>massa</i>. Um MeV, ou megaelétron-volt, é um milhão de elétrons-volt, assim como um megabyte é um milhão de bytes. Um GeV, ou gigaelétron-volt, é mil MeV, e um TeV, ou teraelétron-volt, é mil GeV. Para se ter uma ideia do tamanho disso, para se retirar um elétron de um átomo de hidrogênio, são necessários 13,6 eV. Se transformarmos um elétron em energia pura (transformação de matéria em energia), obteremos 0,511 MeV. Se transformarmos a partícula encontrada no dia 04/07 em energia pura, obteremos 126 GeV. Então, diz-se, por abuso de linguagem, que sua massa é de 126 GeV.<br />
<br />
Esse nome esquisito, "elétron-volt", foi escolhido porque a sua definição formal é: um elétron-volt é a energia cinética que um <i>elétron</i> adquire quando é acelerado (a partir do repouso) por um potencial de um <i>volt.</i><br />
<br />
<br />
<b>Algumas considerações adicionais sobre o Modelo Padrão e o pós-Modelo Padrão:</b><br />
<br />
(1) O Modelo Padrão, teve previsões quantitativas
verificadas zilhões de vezes de inúmeras formas, não só pela observação
de outras partículas que previu, mas também com cálculos quantitativos
sobre as interações entre as partículas subatômicas, que podem ser
verificados em experimentos nos aceleradores de partículas e em
observações de raios cósmicos (como Lattes fazia). À primeira vista,
isso pode levar a concluir que o bóson de Higgs necessariamente exista.
Seria penas uma confirmação a mais dentre tantas outras.<br />
<br />
(2)
Porém, por outro lado, há razões muito fortes para se crer que o Modelo
Padrão não deva ser a última palavra. Por isso, é possível que o bóson
de Higgs não exista, mesmo tendo em vista os sucessos descritos no item
(1). A principal razão para essa desconfiança no Modelo Padrão é que ele
é incompatível com a Teoria da Relatividade Geral (de Einstein), cujas
previsões também já foram verificadas zilhões de vezes. Ou seja, nem o
Modelo Padrão e nem a Relatividade Geral devem ser a última palavra.
Seria então necessário encontrar uma teoria maior que fosse consistente
com ambas, que as englobasse. Isso, na verdade, é uma das principais
fronteiras da física teórica hoje, que ocupa gente como Stephen Hawking -
a famosa teoria das cordas é uma candidata a ser essa "teoria maior",
mas ela ainda não foi verificada experimentalmente; o LHC vem ajudando
também nisso. Qual o ponto de partida para construir tal "teoria maior"?
O ponto de partida é procurar discrepâncias entre as previsões do
Modelo Padrão e os resultados dos experimentos. Essas discrepâncias
serviriam como "guia". Na verdade, tais discrepâncias existem, mas são,
por enquanto, poucas demais e pequenas demais para tornar possível
inferir qualquer teoria a partir delas. É por isso, aliás, que constróem
aceleradores cada vez maiores: para encontrar mais de tais
discrepâncias. (Ei, mas o LHC não foi construído para encontrar o Higgs?
Sim, também, mas essa é a justificativa-vitrine dos 9 bilhões; ele
serve para muitas outras coisas.).<br />
<b></b><b></b><br />
<br />
<br />
<b>Alguns links:</b><br />
<br />
[P.S. 06/07/12] Este post da Tatiana Nahas no seu blog <a href="http://ciencianamidia.wordpress.com/">Ciência na Mídia</a> possui vários links interessantes para quem quiser saber mais: <a href="http://ciencianamidia.wordpress.com/2012/07/04/a-materia-prima-para-formacao-do-universo-em-poucos-cliques/">A matéria-prima para a formação do Universo em poucos cliques</a><br />
<br />
Este aqui parece bastante explicativo:<br />
<a href="http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2012-07-01_2012-07-07.html?utm_medium=twitter&utm_source=twitterfeed#2012_07-04_12_44_10-7000670-0">http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2012-07-01_2012-07-07.html?utm_medium=twitter&utm_source=twitterfeed#2012_07-04_12_44_10-7000670-0</a><br />
<br />
Texto com alguns detalhes mais aprofundados sobre como foi feita a pesquisa, do blog "<a href="http://fisicafutebolfalacias.blogspot.de/">Física, Futebol e Falácias</a>", do Luís Gregório:<br />
<a href="http://fisicafutebolfalacias.blogspot.de/2012/07/na-espera-do-boson-de-higgs.html">http://fisicafutebolfalacias.blogspot.de/2012/07/na-espera-do-boson-de-higgs.html</a><br />
<br />
Tutorial do Fermilab (em inglês): <br />
<a href="http://www.fnal.gov/pub/presspass/press_releases/2012/files/Higgs_Boson_FAQ_July2012.pdf">http://www.fnal.gov/pub/presspass/press_releases/2012/files/Higgs_Boson_FAQ_July2012.pdf</a><br />
<br />Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-41278910572951075072011-10-01T22:56:00.010-03:002011-10-02T02:15:35.601-03:00O caso dos neutrinos mais velozes que a luz<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.lngs.infn.it/lngs_infn/index.htm?mainRecord=http://www.lngs.infn.it/lngs_infn/contents/lngs_photos/index.php?cwd=experiments%2Fopera&language=lngs_en"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 202px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-kC3gRPzV3vE/TofHLVOzBPI/AAAAAAAAAeI/-KcPNgIlUNQ/s400/operacyad.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5658710454306014450" border="0" /></a>A essa altura, a maioria dos leitores já ouviu falar da suposta descoberta de partículas mais velozes que a luz, em um laboratório em Gran Sasso, na Itália, há pouco mais de uma semana. São neutrinos, partículas centenas de milhares de vezes mais leves que um elétron e que interagem muito fracamente com a matéria. A velocidade determinada pela <a href="http://operaweb.lngs.infn.it/?lang=en">Colaboração OPERA</a> com os enormes detetores da figura ao lado foi de apenas 0,00248% acima da velocidade da luz. No entanto, a precisão do experimento foi grande e esse resultado parece contradizer frontalmente a <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2009/02/o-que-e-teoria-da-relatividade-especial.html">teoria da relatividade especial</a>.<br /><br />Vários desdobramentos aconteceram nesta última semana. A maior parte dos cientistas está cética, mas as reações variam muito. A essa altura, muita gente já conhece sua reação por meio de entrevistas e matérias de jornais. Mas outra coisa é ver o que dizem em suas publicações científicas. O <a href="http://www.technologyreview.com/blog/arxiv/">blog do ArXiv</a> publicou no sábado uma <a href="http://www.technologyreview.com/blog/arxiv/27212/">lista de nove artigos</a> que representam o que a comunidade científica anda pensando de tudo isso. Abaixo, falo um pouco sobre eles, mas <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2011/10/neutrinos-mais-velozes-que-luz-reacao.html">este post</a> no blog <span style="font-style: italic;">A Física se Move</span> dá muito mais detalhes.<br /><br />Basicamente, há três tipos de interpretação para os resultados:<br /><br />a) A anomalia é devida a algum erro dos autores;<br />b) A anomalia é real e indica uma violação da teoria da relatividade especial;<br />c) A anomalia é real, os neutrinos viajam mais rapidamente que a luz, mas a teoria da relatividade não é violada (sim, isso é possível).<br /><br />Além disso, há os cientistas que preferem esperar que outros grupos verifiquem se conseguem reproduzir os dados - como é o caso dos próprios autores, como declararam no <a href="http://arxiv.org/abs/1109.4897">seu artigo</a><http: org="" abs="" 4897="">.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Por que não crêem os que não crêem - </span>Sendon Glashow, prêmio Nobel de física de 1979, é um dos céticos da categoria (a). "Refutamos a interpretação superluminal dos resultados do OPERA", disparou no resumo do <a href="http://arxiv.org/abs/1109.6562">seu artigo</a><http: org="" abs="" 6562="">, escrito junto com Andrew G. Cohen. Seu argumento é que, pelos seus cálculos, os neutrinos perderiam energia pelo caminho, que seria convertida em matéria por meio da produção de elétrons e pósitrons, e eles não poderiam de forma alguma alcançar o detector do OPERA com velocidade acima da luz, vindos de onde foram produzidos, no CERN, em Genebra, a 730 km de distância.<br /><br />As tentativas de explicação variam enormemente pela lista do ArXiv. <a href="http://arxiv.org/abs/1109.6520">Susan Gardner</a><http: org="" abs="" 6520="">, da Universidade do Kentucky, nos EUA, acha que o pessoal do OPERA foi ludibriado por efeitos cosmológicos devidos à matéria escura. <a href="http://arxiv.org/abs/1109.6160">Carlo Contaldi</a><http: org="" abs="" 6160="">, do Imperial College de Londres, também acha que eles se enganaram, e o vilão teria sido a interpretação do conceito de simultaneidade adotada - o tempo se comporta de forma bem diferente do que estamos acostumados no cotidiano pode nos pregar peças. Há quem ache que o grupo foi vítima de meras interpretações estatísticas equivocadas, como <a href="http://arxiv.org/abs/1109.5727v1">Robert Alicki</a>, da Universidade de Gdánsk, na Polônia. É que os dados, colhidos durante três anos a fio, são em número imenso e devem sofrer análise estatística, uma tarefa melindrosa e cheia de sutilezas conceituais.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Convivência difícil, mas possível - </span>O problema em supor enganos dessas espécies é que os cientistas do OPERA parecem ter feito um excelente trabalho. No entanto, a teoria da relatividade também vem fazendo um trabalho espetacular - suas previsões vêm sendo confirmada por inúmeros experimenetos já faz quase um século. Assim, há cientistas que apostam que tanto os resultados quanto a relatividade estão corretos. Isso é possível, mas há um preço conceitual nada baixo a se pagar.<br /><br />Por exemplo, <a href="http://arxiv.org/abs/1109.5687">Steven Gubser</a>, da Universidade de Princeton, nos EUA, pretende resolver o paradoxo por meio de dimensões espaciais a mais além das três a que conseguimos perceber. O neutrino teria viajado por dimensões extras, produzindo a ilusão de uma velocidade muito grande. Já <a href="http://arxiv.org/abs/1109.6312">Alex Kehagias</a>, da Universidade de Atenas, imagina que a Terra produza um campo de forças ainda desconhecido, além do conhecido campo gravitacional e do seu campo magnético. Surpreendentemente, ele conseguiu escrever a fórmula de um campo que consegue ao mesmo tempo ser compatível com a relatividade e produzir neutrinos mais rápidos que a luz.<br /><br />Ao fim e ao cabo, a conclusão é a mesma que os próprios autores advertiram desde o primeiro momento: uma conclusão precisa terá que esperar que outros grupos de pesquisa verifiquem se conseguem reproduzir os resultados do OPERA. Isso pode levar uns anos. Enquanto isso, podemos especular à vontade: já há teóricos dando os primeiros passos para construir uma teoria alternativa à relatividade especial. Um dos artigos da lista do blog do ArXiv é justamente sobre isso.</http:></http:></http:></http:>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-18922777721550557022011-05-19T12:10:00.013-03:002011-05-20T00:20:34.041-03:00A importância dos pequenos e médios cientistas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://cms.web.cern.ch/cms/Media/Publications/CMStimes/2011/01_10/images/CMSWeek.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 337px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-t2GkaoBHz1o/TdUzzBC-jaI/AAAAAAAAAdk/Bu-WnVaqrGk/s400/pequenoscientistas2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5608445862507089314" border="0" /></a>O grande Isaac Newton disse uma vez, modestamente, que conseguiu ir tão além de seus predecessores porque apoiava-se sobre “ombros de gigantes”. Mas as coisas mudaram de lá para cá. Hoje, grandes cientistas apóiam-se não só nos ombros dos colossos, mas também sobre altas pirâmides feitas de inúmeros pequenos e médios pesquisadores. Grandes descobertas só são possíveis porque são consequência de uma vasta massa de módicas contribuições. Eis abaixo três exemplos diferentes.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Só sei que 73% nada sei</span><br /><br />Eis uma descoberta grande: em 1998, um grupo liderado por Adam Riess descobriu que a expansão do Universo – o inexorável afastamento dos grupos de galáxias uns dos outros, como estilhaços de uma explosão – está se acelerando. Isso foi muito esquisito, porque esperava-se que a gravidade a desacelerasse. Riess baseou-se na observação de supernovas longínquas (supernovas são colossais e raras explosões estelares que adquirem durante alguns dias o brilho equivalente ao de uma galáxia inteira). A consequência imediata foi a descoberta de que 73% da massa de todo o Universo é feito de uma entidade de natureza inteiramente desconhecida que permeia todo oe espaço, chamada, por falta de nome melhor, de “energia escura” (a responsável pela aceleração).<br /><br />Impressionante, não? Sim, com toda a certeza, tanto que Riess ganhou pelo menos quatro prêmios por causa disso. Acontece que o artigo publicado cita 131 artigos anteriores (contei <a href="http://www.stsci.edu/%7Eariess/documents/1998.pdf">nesta versão</a> em PDF), cada um delas contendo outras dezenas e assim por diante. O grupo de Riess só pôde alcançar seu grande feito porque na década anterior as técnicas de detecção de supernovas muito distantes haviam sido aprimoradas por uma porção de cientistas ao redor do mundo. Teorias sobre como interpretar os dados foram testadas, abandonadas e aperfeiçoadas em textos herméticos cheios de equações; estudos estatísticos sobre a distribuição de supernovas nas galáxias produziram longos artigos de dezenas de páginas de leitura extraordinariamente chata. E ninguém pensava em revolucionar nada. Sem isso, Riess não teria ganho nenhum desses prêmios.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Davis ajudam Golias no sonho da energia inesgotável</span><br /><br />Agora, vejam este interessante contraste. Na Unicamp, um grupo de pesquisa possui uma máquina chamada tokamak, com a qual pretendem contribuir para um grande sonho da humanidade: energia inestogável, limpa e sem perigo de acidentes, usando a fusão nuclear. Um “anti-Fukushima”.<br /><br />Enquanto isso, em Caldarach, no sul da França, está sendo construída outra máquina semelhante, o <a href="http://www.iter.org/">Iter</a>, que promete encostar no sonho por volta do fim da década de 2030 ou depois (dinheiro para construir mais delas é outra história). Só que, para o conseguirem, precisaram de uma versão gigantesca, que necessitará de 50 megawatts para funcionar e 15 bilhões de euros para existir. A máquina em Campinas tem apenas 30 centímetros de diâmetro (e não exigiu um centavo, foi doada pela Universidade de Quioto, do Japão).<br /><br />Pergunta: se foi necessário um projeto faraônico para produzir energia controlável da fusão nuclear, por que os unicampestres acreditam que podem fazer alguma diferença com seu modesto dispositivo?<br /><br />Resposta: porque, para fazer o Iter, foi usado know-how teórico e experimental produzido por uma miríade de cientistas nos últimos mais de 60 anos, incluindo o pessoal da Unicamp. Até com vantagens: como o tokamak de Campinas é muito menor, pode-se fazer muitos experimentos nele e aumentar o conhecimento numa velocidade que o Iter, um “Elefantástico” que levará decênios para ficar pronto, não permite. O mesmo com todos os muitos pesquisadores ao redor do mundo que colocam sua gotinha no copo que um dia pode transbordar energia limpa.<br /><span style="font-weight: bold;"></span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Rumo ao futuro: esta formiguinha tem lugar garantido</span><br /><br />Tudo isso foi dito em retrospecto, sobre coisas que aconteceram ou estão em vias de acontecer. Mas às vezes dá para perceber que uma pequena contribuição certamente estará na sopa de onde um dia virão beber grandes soluções. Escolhendo meio aleatoriamente, caiu-me em mãos recentemente um <a href="http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/bm901383a">artigo</a> de 2010 de um físico da UFPR e três do Laboratório Síncrotron de Campinas, sobre cristalização de celulose. Celulose com alto grau de cristalização seve para engenharia de tecidos e produção de materiais biológicos artificiais, coisas com potencial de salvarem vidas. Mas os atuais métodos para aumentar cristalização são agressivos e degradam a celulose. Na busca de uma solução para essa limitação, os cientistas conseguiram mostrar como a cristalização acontece num dos métodos, que usa ultrassom. Até fizeram um desenho em 3D.<br /><br />Isso não resolve o problema, e dificilmente alguém se lembrará dessa pequena contribuição se no futuro inventarem um novo órgão artificial salvador de vidas. Mas é bem provável que a densa teia de contribuições que leve a essa inovação inclua a dos paranaenses e campineiros.<br /><br />E assim caminha a pesquisa científica na sua vida “feijão-com-arroz”, base invisível das grandes descobertas que ressoam pelos jornais.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-14950187445366250262011-05-16T21:35:00.005-03:002011-05-16T21:57:24.263-03:00Desenvolvimento e culturas tradicionais<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CRAT_2_%28Porto%29.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 317px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-se9d9d8SxvQ/TdHDJXHM3cI/AAAAAAAAAdc/e-V4uIUj75Y/s400/artesanato.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5607477576643435970" border="0" /></a><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CRAT_2_%28Porto%29.JPG"> </a>De uns anos para cá, alguma coisa começou a me incomodar nas manifestações culturais para consumo turístico que vemos por aí - procissões, batuques, artesanatos. São muito bonitas, mas muitas me deixam um sutil e acre retrogosto de artificalidade, de "verniz".<br /><br />Lembrei-me dessa impressão depois que li esse artigo que me caiu em mãos: "A patrimonialização da cultural como forma de desenvolvimento" (em PDF <a href="http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Aurora/9silva106a113.pdf">aqui</a>), de Sandra Siqueira Silva, mestranda da Unimontes, que apareceu na última revista <a href="http://www.marilia.unesp.br/index.php?CodigoMenu=1954&CodigoOpcao=1954"><span style="font-style: italic;">Aurora</span></a>, uma publicação para pós-graduandos editada pela Universidade de Marília. Surpreendeu-me pela forma de expor e articular de modo simples e claro noções em geral difíceis de explicar. Não entendo muito desses assuntos, de modo que talvez seja interessante também para outras pessoas como eu.<br /><br />Primeiro, ela expõe brevemente alguns conceitos sobre desenvolvimento, até culminar com o de Armartya Sen (prêmio Nobel de Economia), segundo o qual ele não deveria ser definido em termos de prosperidade econômica, mas sim de bem-estar, com ênfase na liberdade. O resto seria consequência. Qual a diferença? É que, além do bem-estar "econômico", existem outros, como o mental e o social – e um não decorre necessariamente do outro.<br /><br />Como isso se articula com cultura? Esse é o tema da seção 2, em particular a partir do final da página 111. Ali, a autora tece uma crítica a certas estratégias de valorização de patrimônios culturais que enveredam pela espetacularização e pela industrialização dos mesmos. Afinal, há outras formas de riqueza além do poder aquisitivo, e o patrimônio cultural tem outros valores além da possibilidade de produzir dinheiro (e do mero entretenimento, eu acrescentaria). Especialmente importantes são os seus valores simbólicos para a própria comunidade que detém esses patrimônios.<br /><br />Não só. A cultura é fundamental para o próprio desenvolvimento, no sentido de Amartya Sen. Diz a Sandra:<br /><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-style: italic;">"A forma de inserção dos excluídos é via cultura e nas alternativas governamentais voltadas para este fim. A cultura é a mola propulsora para que a comunidade local tome posse da sua identidade, se reconheça nela, e através dela se organize socialmente. Com a valorização da cultura torna-se possível o funcionamento de toda a engrenagem social local."</span><br /></blockquote></div><br />Eis a razão do meu “incômodo de fundo”. Acho que o escopo do artigo é mais amplo, mas várias comunidades que realizam as manifestações para turistas que tenho visto podem, sim, estar ganhando dinheiro (pelo menos, as pessoas em cujos bolsos ele cai), mas parecem ter perdido algo: o significado original dessas manifestações, do seu antigo papel na vida da comunidade. Não se trata apenas de querermos preservar algo bonitinho. O esvaziamento do significado original é sintoma de que aquela comunidade sofreu destruição de seus valores, perda de identidade e mudanças drásticas nas suas atividades normais – enfim, teve sua “engrenagem social local” estourada. Com todo o sofrimento que decorre disso. Isso não combinam com “desenvolvimento”.<br /><br />As pessoas não deveriam ser forçadas, pelas circunstâncias ou por outras pessoas, a adotar um modelo sócio-econômico e uma cultura diferentes dos que vêm partilhando há séculos.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-8201118420495332692011-05-12T11:45:00.001-03:002011-05-20T00:16:39.180-03:00Exercícios simples de alongamento e abdominais<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.youtube.com/watch?v=5YEDjICPflc&feature=player_embedded"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 162px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-PWVBZ7Eg0BQ/TcwcVvfO-ZI/AAAAAAAAAdU/pXpKdKeSgPY/s400/alongvideo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605886796019726738" border="0" /></a>A vida pode ficar bem melhor com alguns exercícios físicos simples que podem ser feitos em casa. Mas é necessário um pouco de orientação. Circulou pela Internet ontem um vídeo preparado pelo <a href="http://www.youtube.com/watch?v=5YEDjICPflc&feature=player_embedded">Portal Vital</a> com o <span style="font-style: italic;">personal trainer</span> Marcelo Lucon, da Academia Ativa, de São Paulo, ensinando como fazer abdominais (clique na figura ao lado).<br /><br />Confesso que só conhecia a versão "cruel", dolorida e extraordinariamente cansativa desses exercícios, que aprendi em aulas de educação física no colégio. As mostradas pelo Lucon parecem agradáveis e simples.<br /><br />Isso me fez lembrar de um conjunto de exercícios de alongamento que um amigo meu, professor de Educação Física, me passou em imagens há uns dez anos e me pediu para colocar no meu antigo site. Como o meu site já foi para o beleléu, que Deus haja, então posto novamente aqui.<br /><br />A mensagem original do Marcão foi:<br /><div style="text-align: justify; font-style: italic;"><blockquote>"Estou deixando uma sequência de alongamentos para o pessoal saber pelo menos que existe alguma coisa para nos deixar mais relaxados e dispostos nas apresentações. Alongamento não deve ser usado apenas para preparar para algo e sim devemos nos manter alongados. Se você estiver andando e torcer o pé, um dos motivos de a lesão ser feia é ter os músculos muito rígidos. É apenas um dos itens da boa disposição. Mas espero que ajude. Uma dica: se não tiver tempo para nada, faça pelo menos o que fica com as pernas para cima (90 graus) - no mínimo, antes de dormir - e, se possível, dê uma boa espreguiçada antes de se levantar."</blockquote></div><br />Atenção: não exagere. Não é para doer muito. Não é treinamento para tropas de elite, é para ser simples e agradável. Se o corpo reagir de modo muito estranho, pare. Apesar de terem sido projetados para se fazer em casa, orientação em uma academia ou de um especialista só fará bem.<br /><br /><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/-aGGVzhYV0hk/TcwadkpufsI/AAAAAAAAAdM/QF2gkZdkPWU/s1600/along1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 375px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-aGGVzhYV0hk/TcwadkpufsI/AAAAAAAAAdM/QF2gkZdkPWU/s400/along1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884731526643394" border="0" /></a><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/-C34MHGgvQd0/TcwabM6ujpI/AAAAAAAAAdE/LHIUrovBv_0/s1600/along2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 313px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-C34MHGgvQd0/TcwabM6ujpI/AAAAAAAAAdE/LHIUrovBv_0/s400/along2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884690795761298" border="0" /></a><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/-wCKSne0Rfcg/TcwaYgtTD_I/AAAAAAAAAc8/nKsL-9lHRcc/s1600/along3.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 249px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-wCKSne0Rfcg/TcwaYgtTD_I/AAAAAAAAAc8/nKsL-9lHRcc/s400/along3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884644568535026" border="0" /></a><br /><a href="http://2.bp.blogspot.com/-4dbn-immnow/TcwaWHlX1FI/AAAAAAAAAc0/oZ_htYM1-eQ/s1600/along4.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 238px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-4dbn-immnow/TcwaWHlX1FI/AAAAAAAAAc0/oZ_htYM1-eQ/s400/along4.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884603464668242" border="0" /></a><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Ehf-8iQ_nRE/TcwaTODKBYI/AAAAAAAAAcs/mEFbpg7JLJE/s1600/along5.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 395px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-Ehf-8iQ_nRE/TcwaTODKBYI/AAAAAAAAAcs/mEFbpg7JLJE/s400/along5.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884553660597634" border="0" /></a><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/-M0FZJuc1H2I/TcwaQYBVL8I/AAAAAAAAAck/pH5YrtfgP_M/s1600/along6.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 355px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-M0FZJuc1H2I/TcwaQYBVL8I/AAAAAAAAAck/pH5YrtfgP_M/s400/along6.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884504797687746" border="0" /></a><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/-6ipx4ILxcmI/TcwaM3N_aYI/AAAAAAAAAcc/azKnsKWuWoM/s1600/along7.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 370px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-6ipx4ILxcmI/TcwaM3N_aYI/AAAAAAAAAcc/azKnsKWuWoM/s400/along7.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605884444452809090" border="0" /></a>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-10765313236981575702011-05-11T10:25:00.006-03:002011-05-11T11:18:10.908-03:00O Homem e o Universo (A. Koestler)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/-sV-M37l9r8I/TcqQFtRt2hI/AAAAAAAAAcE/HoHgXvTTjTg/s1600/koestler.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 313px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-sV-M37l9r8I/TcqQFtRt2hI/AAAAAAAAAcE/HoHgXvTTjTg/s400/koestler.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605451113943652882" border="0" /></a>Uma narrativa deliciosa da história da astronomia ocidental, desde os gregos antigos até Isaac Newton, com ênfase nas biografias de Nicolau Copérnico, Johannes Kepler e Galileu Galilei. O título das primeiras edições brasileiras, que seguiram o título original, dá uma ideia da proposta da obra: "Os sonâmbulos" (<span style="font-style: italic;">"The sleepwalkers"</span>). Não é apenas mais uma "demonstração" dos avanços consistentes da ciência astronômica desde seus pais ao longo do tempo. Pois seus primeiros protagonistas não eram cientistas no sentido moderno. Pelo contrário, viviam numa época em que não havia fronteira entre ciência e misticismo. A tônica do livro é a passagem dessa era para a moderna, a da "separação dos caminhos", por trajetórias muitas vezes erráticas.<br /><br />Kepler é um exemplo cabal dessa época de transição. Procurava explicar o movimento dos planetas com métodos que hoje soariam no mínimo exóticos. Acreditava que esses astros emitiam sons harmônicos inaudíveis por ouvidos mortais. Assim, em seu livro "Harmonia dos Mundos", tentou encaixar regularidades nos movimentos planetários em uma sofisticada teoria musical. Seu livro está cheio de pautas com escalas musicais. Em certo ponto (no parágrafo 8), ele se pergunta - e responde: "Quais planetas cantam soprano, quais contralto, quais tenor e quais baixo?"<br /><br />No entanto, Kepler pode ser também considerado um dos primeiros cientistas modernos, pois, quando uma teoria não se encaixava perfeitamente no que observava nos céus, ele tentava outra. E procurava acesso aos dados mais precisos disponíveis para testar seus modelos. Isso é uma atitude perfeitamente moderna.<br /><br />Assim, ele chegou a abandonar a música das esferas para tentar encaixar os cinco sólidos regulares nas órbitas dos planetas. Também não deu certo. O detalhe é que essa atitude levou Kepler a abandonar também descobertas que hoje fazem parte do conhecimento científico e são ensinadas nas escolas. No seu esforço em procurar regularidades, que em certos momentos Koestler pinta com cores de desespero e loucura, consumindo o próprio ser de Kepler, o astrônomo acabou topando com suas famosas leis que descrevem o movimento dos planetas.<br /><br />Essas leis arrebentavam com a cosmologia da época, pois rejeitavam que os planetas descrevessem círculos (a forma perfeita, bem adequada ao céu, morada divina), mas elipses (espécies de ovais). Na época, pode ter sido algo tão ou mais louco do que a harmonia das esferas parece hoje. Mas foram usadas por Newton quase cem anos depois para demonstrar sua lei da gravidade, por muito tempo um símbolo do sucesso da ciência moderna. Em seguida, Kepler a trocou pelo movimento das esferas, pela teoria dos sólidos regulares e outras.<br /><br />O livro de Koestler é, assim, também uma narrativa da passagem hesitante e tateante de uma época em que não se fazia distinção entre ciência, religião, misticismo e esoterismo para outra em que uma fronteira estanque foi erguida entre a ciência e o resto (na verdade, isso aconteceu também com a religião ocidental). O capítulo final, "A separação dos caminhos", é dedicado àquele que pode ter sido o primeiro grande cientista no sentido moderno, e também o que simboliza o divórcio entre ciência e religião: Galileu Galilei. Foi dada ênfase no seu conflito com a Igreja. Cartas trocadas entre ele e a Santa Sé estão reproduzidas nas notas no final do volume. Vê-se que muitas vezes Galileu não facilitou muito as coisas para os que queriam botar as coisas em panos quentes no Vaticano.<br /><br />Arthur Koestler (1905-1983), ensaísta húngaro, crítico feroz do stalinismo, era um escritor estiloso. A narrativa é de prender a atenção. E consegue combinar detalhes biográficos e científicos com um texto fluente, gostoso. Dá cor, espírito e emoção às buscas visionárias dos "sonâmbulos" pelos princípios fundamentais do cosmo. Para gente curiosa, o resultado é explosivo. Lembro-me de ficar agarrado com esse volume enquanto esperava ônibus na rodoviária, de pé, há 20 anos. Por pouco não perdi alguns.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-81263924161189760342011-05-10T17:01:00.013-03:002011-05-11T01:18:08.199-03:00A vida depende de uma coincidência cósmica<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Biogradska_suma.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 246px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-M7amKE2AVyA/TcmtbSZiIEI/AAAAAAAAAbc/DaJPycZbu1c/s400/floresta.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5605201895546298434" border="0" /></a>Acabo de colocar uma postagem no blog <a style="font-style: italic;" href="http://afisicasemove.blogspot.com/2011/05/vida-depende-de-uma-coincidencia.html">A Física se Move</a> sobre algo que me causou muita impressão. Ao que parece, a vida na Terra só pôde acontecer por causa de uma coincidência ainda não explicada envolvendo as energias dos núcleos atômicos de hélio, berílio e carbono. O carbono, como se sabe, é a base da vida na Terra. Sua origem está no interior das estrelas: assim como quase todos os outros elementos químicos, ele é formado por reações nucleares no núcleo estelar (os núcleos mais pesados são formados nas supernovas). Sem estrelas, só haveria hidrogênio e hélio. Nessas fornalhas cósmicas, núcleos de átomos de hélio e de berílio são fundidos para formar núcleos de carbono.<br /><br />Acontece que a energia do núcleo de carbono é muito menor que a do hélio e a do berílio somadas. Pelas leis que regem as reações nucleares, isso torna extremamente improvável que a reação ocorra. E o carbono seria raríssimo.<br /><br />A salvação está numa peculiar coincidência. O carbono, assim como qualquer outro núcleo atômico, possui um conjunto de outros estados com energias mais altas. Ele não pode ter qualquer energia, mas apenas algumas específicas. Uma dessas é - bingo! - quase igual à necessária para a reação ocorrer!<br /><br />Por causa dessa coincidência, o carbono se forma abundantemente junto com oxigênio no interior das estrelas, e a vida na Terra (e sabe-se lá onde mais) pôde surgir.<br /><br />Não há nenhuma lei da física conhecida que obrigue isso a acontecer. Na verdade, seria uma surpresa se tal lei existisse: pois pareceria uma lei física "construída" especificamente para que a vida pudesse surgir. O buraco é bem mais embaixo...<br /><br />Falo mais detalhes no <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2011/05/vida-depende-de-uma-coincidencia.html"><span style="font-style: italic;">A Física se Move</span></a>.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Post-scriptum: </span>Há uma explicação possível. Talvez os parâmetros físicos de que dependem as energias do núcleo de carbono (constante de Planck, velocidade da luz no vácuo, massas das partículas elementares) sejam diferentes em regiões muito distantes do cosmo (muito mais distantes do que até onde os telescópios conseguem enxergar), de modo que necessariamente só poderíamos ter nascido onde ela tivesse a energia "certa". Ou então pode ser que elas variem no tempo. Só poderíamos então ter nascido numa época específica em que a energia seria a "correta" (como parece que os parâmetros não variaram muito desde perto do Big-Bang até hoje, isso só faria sentido em teorias alternativas de universos cíclicos, pulsantes, com vários Big-Bangs sucessivos). Essas hipóteses fazem parte de um tipo de raciocínio conhecido como "princípio antrópico".Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-55353017694383809452011-05-09T11:34:00.007-03:002011-05-11T01:22:42.752-03:00Revoluções na Cosmologia nos últimos 20 anos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Gravitationell-lins-4.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 228px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-r9DaE_orUrM/TcgDkIIKBiI/AAAAAAAAAbE/Ow7EZd05TEc/s400/lentegrav.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604733655454451234" border="0" /></a>O conhecimento científico está sempre se transformando e a cosmologia, incluindo os modelos sobre o Big-Bang, não é exceção. Nos últimos 20 anos, houve uma verdadeira revolução na área. E pode ser que o melhor ainda esteja por vir.<br /><br />Ao contrário do que muitos possam imaginar, a teoria do Big-Bang original tinha muitas inconsistências teóricas que só foram resolvidas nos anos 90. Apesar de suas previsões concordarem quantitativamente com as observações, havia problemas qualitativos imensos. Por exemplo, parecia implicar em que um de seus parâmetros tivesse valor 1 com uma precisão de 1 em 10<sup>62</sup> - sem razão aparente nenhuma para isso. E isso era só um dos problemas.<br /><br />Em 1980, um aperfeiçoamento na teoria feito por Alan Guth, chamada <span style="font-weight: bold;">teoria inflacionária,</span> resolveu esses problemas com uma tacada só. Segundo ele, o Universo teria se expandido muito rapidamente logo no início - esticou-se 10<sup>78</sup> vezes em 10<sup>-32</sup> segundos (!). Essa "esticada" radical eliminaria as inconsistências. O preço foi postular um campo de forças (chamado "inflaton") que produzisse essa inflação.<br /><br />A partir de 1992, as previsões dessa teoria começaram a ser confirmadas por observações. Rapidamente, a teoria inflacionária foi levada ao nível da ortodoxia, povoou os livros-textos de cosmologia e tornou-se o paradigma dominante na área.<br /><br />Mas essas mesmas observações que corroboraram a inflação também levaram a outra descoberta sensacional: que a quantidade de energia e de matéria "comum" no Universo, que forma planetas, estrelas etc. (a chamada "matéria bariônica") constitui apenas 4% de toda a massa do cosmo! Ninguém sabe o que é o resto. Chamou-se-a de <span style="font-weight: bold;">"matéria escura".</span><br /><br />Nos anos 1990, o advento dos telescópios em satélites artificiais como Hubble, livres da interferência da atmosfera terrestre, e dos detectores de precisão neles instalados, produziu uma mudança tão grande nas possibilidades de observação que os astrofísicos falam no advento de uma <span style="font-weight: bold;">"era da cosmologia de precisão".</span> Um novo "instrumento" foi descoberto, as supernovas distantes. Por causa da uniformidade da sua luminosidade, elas mostraram-se o mais preciso "detector de distâncias" conhecido.<br /><br />Com as supernovas, em 1999 houve outra descoberta espetacular: que a expansão do Universo está se acelerando. Surpresa total, pois imaginava-se que a força gravitacional dos astros do cosmo a faria desacelerar. Ninguém sabe por que há a aceleração. Por falta de nome melhor, chamam o agente misterioso de <span style="font-weight: bold;">"energia escura".</span> Sabe-se hoje que a energia escura perfaz 73% da massa do Universo, enquanto a matéria escura 23% e a matéria e energia ordinárias apenas 4%.<br /><br />Apesar de a natureza da matéria escura e da energia escura serem desconhecidas, não foi difícil adaptar o modelo cosmológico inflacionário para incluir parâmetros que representassem ambas. O modelo atual mais aceito é chamado "Λ-CDM" (Lambda-Cold Dark Matter), onde lambda (Λ) é a constante cosmológica, o parâmetro que representa a energia escura (há vários outros modelos alternativos, porém).<br /><br />A revolução ainda não terminou. O modelo inflacionário atual pode fazer previsões quantitativas que concordam excelentemente com as observações, mas também sofre de problemas qualitativos grandes, como o Big-Bang original. Um é que ele supõe um momento inicial de densidade de matária e energia infinitas. Há dezenas de modelos alternativos tentando evitar essa "singularidade inicial" - vários dos quais incluem uma era <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/04/como-saber-o-que-houve-antes-do-big.html">pré-Big-Bang</a>.<br /><br />Na última <span style="font-style: italic;"><a href="http://www2.uol.com.br/sciam/">Scientific American Brasil</a> </span>(de maio)<span style="font-style: italic;">,</span> apareceu um artigo de Paul Steinhardt no qual ele mostra outras inconsistências aparentemente graves. Comento esse artigo no último post do blog <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2011/05/criticas-ao-modelo-atual-da-origem-e.html">A Física se Move</a>. Vários físicos dizem que elas serão solucionadas com algum aperfeiçoamento do modelo, mas sem abdicar da ideia central da inflação, tal como aconteceu com o Big-Bang original em 1980. Outros acham que a teoria deve ser substituída. Por enquanto, é esperar que observações mais precisas façam o tira-teima entre as diversas possibilidades.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-21888292391444850712011-05-05T10:01:00.008-03:002011-05-05T10:49:14.743-03:00Relatividade e quântica com matemática do ensino médio<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.cbpf.br/%7Elabmag/livroivan.html"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 311px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-PParO7Hye2M/TcKmkJUIsjI/AAAAAAAAAa8/q2hOaRStUW8/s400/oliveira.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603224026308194866" border="0" /></a>Um problema nos livros de divulgação em física moderna é que eles não têm meio-termo: ou não contêm nenhuma equação, sendo feitos para quem não quer nem ouvir falar de matemática, ou já são livros técnicos repletos de cálculos avançados. No entanto, há muitos leitores que não têm tanto medo de uma matemática básica, do nível do ensino médio. "Com pouquíssima matemática, pode-se ir muito além do que se conseguiria sem nenhuma", como diz o físico Ivan de Oliveira, no prefácio de um desses livros, de sua autoria (comentado mais abaixo).<br /><br />Felizmente, há algumas obras que explicam relatividade, mecânica quântica e física das partículas com matemática bem simples.<br /><br />A teoria da relatividade especial - aquela do <span style="font-style: italic;">E = mc</span><sup style="font-style: italic;">2</sup> - é a mais fácil. Do ponto de vista matemático, ela é surpreendentemente simples, a ponto de mesmo livros técnicos poderem explicá-la com a matemática do ensino médio. Um deles é <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">"Introdução à Relatividade Especial"</span>, de Robert Resnick. A edição em português está esgotada faz tempo, mas pode ser encontrada em sebos, inclusive na <a href="http://www.estantevirtual.com.br/">Estante Virtual</a>, ou em boas bibliotecas universitárias. Possui uma exposição clara e pode ser seguido facilmente por não-físicos sem orientação de ninguém. E está tudo lá. Relatividade não é assunto só para deuses do Olimpo.<br /><br />(Obs.: o autor cometeu o descuido de pôr uma única equação diferencial na Introdução; quando a vi, levei tamanho susto que fechei o livro e adiei por um ano minha leitura antes da graduação, sem saber que todo o resto me era totalmente acessível. Ignorem-na.)<br /><br />O físico Ivan de Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, escreveu em dois volumes o <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">"Física Moderna para iniciados, interessados e aficcionados"</span>, da Editora da Livraria da Física da USP (a capa é mostrada no início deste texto). Novamente, matemática bem básica, mas desta vez cobrindo toda a física moderna - relatividade especial e geral, mecânica quântica, física nuclear, física das partículas e até a teoria das supercordas - com uma introdução sobre a física clássica (ou seja, a de antes da relatividade e da quântica), necessária para se compreender o resto.<br /><br />Em geral, esses dois volumes exigem apenas a matemática do ensino médio. Quando é preciso algo além, ela é explicada em boxes pelo texto. Na verdade, Oliveira diz, no prefácio, que quem não gosta de matemática pode simplesmente pular as equações. Há também menções no livro todo a pesquisas feitas por cientistas brasileiros. O índice dos dois volumes pode ser encontrado <a href="http://www.cbpf.br/%7Elabmag/livroivan.html">aqui</a>.<br /><br />Uma coisa é conhecer a física moderna por meio de genuflexões retóricas complicadas cheias de metáforas esquisitas para explicar conceitos sutis só com palavras. Outra é ter em mãos uma descrição bem mais direta com um pouquinho de matemática básica. Aí o leitor tem acesso não só a uma abordagem mais precisa, mas também é possível esclarecer muito melhor de onde vem o conhecimento físico e como as teorias são verificadas. E se capacita para poder acompanhar muito melhor outros textos de divulgação ou mesmo alguns mais avançados. Abrem-se portas. Boa viagem.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-24624803206404791392011-05-04T10:04:00.006-03:002011-05-04T11:18:32.466-03:00Coisas que sobrevivem ao Big-Bang<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Black_hole_lensing_web.gif"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 188px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-ia6YKkWFibo/TcFQiEEvylI/AAAAAAAAAa0/jnUssnj4o78/s400/survivingbigbang.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5602847957565033042" border="0" /></a>Fósseis são fascinantes porque nos contam como era o mundo antes mesmo de o próprio ser humano existir. O que dizer de objetos que testemunham eras de antes de o próprio universo como o conhecemos existir?<br /><br />O "universo como o conhecemos" surgiu com o Big-Bang há 13,7 bilhões de anos, mas há várias teorias alternativas que exploram o que houve antes disso. E o que houve seria um universo em contração que, no momento do Big-Bang, teria sofrido um "ricochete" e começado a se expandir. A densidade naquele instante poderia ter atingido 10<sup><span style="font-size:78%;">93</span></sup> vezes a do chumbo.<br /><br />Para <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/04/como-saber-o-que-houve-antes-do-big.html">testar essas teorias</a> e ver se alguma pode substituir o modelo atual, é preciso ter acesso ao que aconteceu naquela época pré-Big-Bang, observando objetos e estruturas que tenham permanecido em nossa era. Mas o que pode ter sobrevivido a tal megaevento cósmico?<br /><br />Uma resposta possível foi dada no último dia 19, num <a href="http://arxiv.org/abs/1104.3796">artigo</a> de B. J. Carr, da Universidade Queen Mary de Londres, e A. Coley, da Universidade Dalhousie, em Halifax, no Canadá, publicado no ArXiv. Dizem eles que alguns buracos negros pequenos poderiam ter sobrevivido ao Big-Bang. Calcularam a massa que eles deveriam ter para que isso pudesse acontecer. Para sobreviver, eles deveriam ser tão raros que permanecessem separados durante o ricochete. Pois, normalmente, os astros colidem uns com os outros muito antes desse momento. Se os buracos negros colidirem, formarão um maior, atingirão uma densidade muito grande e sofrerão seu próprio ricochete individual, desmanchando-se.<br /><br />Para isso não acontecer, eles devem tão raros que não se aproximem demais uns dos outros mesmo após uma contração tão grande do espaço como a que acontece perto do ricochete. Isso significa que eles deveriam ser muito pequenos. Os detalhes dependem do modelo cosmológico em questão, que variam enormemente. Há os que fazem alterações pequenas na teoria da relatividade geral e os que supoem novidades drásticas, como novas dimensões espaciais além das três que conhecemos (o modelo ekpirótico) ou espaço e tempo descontínuos como uma treliça (a gravidade quântica de laços).<br /><br />Mas é possível extrair conclusões gerais sobre o valor dessa massa. O artigo indica que que o limite inferior é de perto de um centésimo de milésimo de grama. O superior depende de mais parâmetros, mas pode chegar a mil toneladas. No entanto, o <a href="http://www.technologyreview.com/blog/arxiv/26724/">comentário do ArXiv blog</a> parece ter tido acesso a mais informações, pois afirma que a massa deve ser bem maior, entre algumas centenas de milhares de toneladas e algo próximo da massa do Sol, o que não é mencionado no artigo em nenhum lugar. De qualquer modo, são massas muito pequenas, pois buracos negros originam-se de estrelas bem mais massivas que o Sol.<br /><br />Por enquanto, trata-se apenas de uma curiosidade, pois seria muito difícil detectar tais buracos negros minúsculos e raros - e eles podem ter sofrido uma expansão brutal e se desmanchado durante o Big-Bang, pois o período inicial de expansão do universo foi extremamente rápido. Os cosmólogos preferem procurar indícios da época pré-Big-Bang na radiação cósmica de fundo, uma radiação que permeia todo o cosmo e que contém informações sobre épocas muito remotas. Aliás, no mesmo dia 19 saiu <a href="http://arxiv.org/abs/1104.3688">outro artigo</a> no ArXiv que explora as características desses indícios e como se poderia distinguir os diversos modelos por meio dela (para quando nossa tecnologia tiver precisão suficiente para identificar esses indícios, se existirem mesmo).Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-38079034916698580432011-05-03T17:24:00.003-03:002011-05-03T17:59:29.580-03:00Por que existe algo ao invés de nada?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/-pySt6cgidHc/TcBqf2959BI/AAAAAAAAAas/paXqMJu7uek/s1600/nada.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 260px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-pySt6cgidHc/TcBqf2959BI/AAAAAAAAAas/paXqMJu7uek/s400/nada.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5602595032012551186" border="0" /></a>Indagar sobre a origem do universo remete imediatamente à <a href="http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/1602">teoria do Big-Bang</a>. O cosmo como o conhecemos teria se originado de uma situação de densidade extrema de matéria e energia há 13,7 bihões de anos, e teria começado a se expandir sem parar.<br /><br />Mas o problema que quero abordar aqui é mais profundo do que "como se originou o que vemos à nossa volta". Por mais que uma teoria explique a origem de tudo o que vemos por meio de leis simples da física e equações matemáticas compactas, podemos sempre nos perguntar: mas <span style="font-style: italic;">por que essas leis se materializam na existência de um universo concreto?</span> Pois as leis da física poderiam permanecer apenas como possibilidade e simplesmente <span style="font-style: italic;">não existir nada.</span> As próprias leis físicas permitem essa situação! Por exemplo, a lei da gravidade diz que a matéria se atrai, mas ela não diz que a matéria tem que existir...<br /><br />E podemos nos perguntar também por que as leis da física são essas aí. Poderiam ser outras. Por que não? Poderia inclusive simplesmente não haver lei alguma - não haver espaço, nem tempo, nem lei física, nem matéria, nem nada.<br /><br />Por que existe algo ao invés de nada?<br /><br />O cientista Max Tegmark tentou abordar essa pergunta imaginando que o universo é, na verdade, constituído apenas de relações matemáticas - é a Hipótese do Universo Matemático (ele escreveu um PDF acessível <a href="http://arxiv.org/PS_cache/arxiv/pdf/0709/0709.4024v1.pdf">aqui</a>). Normalmente, pensamos que existe matéria, objetos, energia, céu, terra, pessoas etc., porque é assim que percebemos o que há à nossa volta. Mas tudo o que existe são, em princípio, apenas <span style="font-style: italic;">relações.</span> Relações matemáticas, diria Tegmark.<br /><br />Mais: sua hipótese implica em que <span style="font-style: italic;">tudo o que não seja contraditório do ponto de vista matemático deveria necessariamente existir.</span> Só não existiria o que é matematicamente proibido. Assim, sua teoria prevê a existência de inúmeros, certamente infinitos, <span style="font-style: italic;">multiversos.</span> Em cada um, variariam as formas das relações matemáticas que o caracterizam - que se traduzem nas ditas "leis da Física". E viveríamos num deles.<br /><br />A pergunta "Por que existe algo ao invés de nada" seria respondida então assim: se nada existisse, então teria sido escolhida apenas uma possibilidade, um possível conjunto de relações matemáticas (um conjunto vazio, no caso), dentre os infinitos permitidas matematicamente. Mas todas as possibilidades são, em princípio, equivalentes. <span style="font-style: italic;">Não haveria razão, segundo Tegmark, para supor que apenas uma dessas possibilidades fosse concretizada.</span> Teríamos então que supor que todas elas existissem de alguma forma. Assim, vários multiversos necessariamente coexistiriam - em algum sentido da palavra "coexistir" -, inclusive aquele em que não há nada.<br /><br />À parte a estranheza e a abstração, o argumento me parece poderoso. Só não sei se é tão natural assim achar que "não haver nada" é tão inaceitável frente a "haver necessariamente todas as possisbilidades matemáticas". Na verdade, o que me parece é que a questão "por que existe algo ao invés de nada" é <span style="font-style: italic;">intrinsecamente irrespondível</span> pela ciência, por causa da própria natureza desta última.<br /><br />Seria um problema inabordável cientificamente, que exporia os limites da ciência, assim como o problema da natureza da "autopercepção do eu", que <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/05/consciencia-e-os-limites-da-ciencia.html">comentei ontem</a>. A conclusão é a mesma: nada impede que se possa abordar esse assunto de outros modos - metafísica, esoterismo, religião, especulação pura e simples etc. O preço que a ciência paga por adotar um método sistemático e rigoroso é que algumas questões simplesmente não podem ser abordadas por esses métodos.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-80277702464096699432011-05-02T15:56:00.009-03:002011-05-03T23:05:26.723-03:00A consciência e os limites da ciência<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/-SaBrpxsgGHg/Tb8HNDF2GTI/AAAAAAAAAak/ojTbNYauUzk/s1600/cerebro.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 184px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-SaBrpxsgGHg/Tb8HNDF2GTI/AAAAAAAAAak/ojTbNYauUzk/s400/cerebro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5602204382221703474" border="0" /></a>Estava neste fim de semana pensando sobre os limites da ciência e sobre o problema da consciência humana, que os ilustra muito bem. Há vários estudos sobre as bases físicas da consciência, voltados à anatomia e à fisiologia do cérebro. No entanto, existe também a <span style="font-style: italic;">percepção pessoal</span> que temos de nossas consciências, uma "autopercepção do eu". Por melhor que seja a abordagem científica, os modelos sobre as bases neurofísicas da consciência não se parecem em nada com essa autopercepção - pelo menos, com a minha.<br /><br />A autopercepção parece ser algo integrado - no máximo, podemos identificar algumas instâncias nela -, e não algo constituído de bilhões de impulsos nervosos eletroquímicos. Mas não é só por isso. Se fosse, não seria problema: a água líquida também vista a olho nu não "parece" composta de moléculas. No entanto, a "cor", o "jeitão" dessa "coisa" que <span style="font-style: italic;">sentimos </span>pela autopercepção parece não ter nada a ver com as descrições de suas bases neurofísicas. Se é que me entendem - a natureza da autopercepção do eu parece ser algo tão irredutível à análise que é quase impossível explicá-la com palavras.<br /><br />Talvez isso tem a ver com a necessidade de <span style="font-style: italic;">definições operacionais</span> em ciência. A ciência não trata da <span style="font-style: italic;">essência</span> dos objetos, das coisas-em-si - isso é assunto da metafísica, quando muito. A ciência trata apenas do que pode ser <span style="font-style: italic;">observado</span> pelos métodos científicos. Assim, quando a ciência tenta definir algum objeto de estudo, o que se faz é enumerar características que podem ser observadas por seus métodos (e/ou remeter a outros conceitos definidos anteriormente). Assim, definimos um elétron dizendo que ele tem massa de 9,11 x 10<sup>-31</sup> kg e carga elétrica positiva de 1,602 x 10<sup>-19</sup> coulombs. Não se diz <span style="font-style: italic;">o que </span>ele é, mas <span style="font-style: italic;">como </span>é. Sabe-se hoje que não é um corpúsculo no sentido tradicional, nem uma onda, nem nada que se conheça. O que é, então? Não se pode saber; pode-se apenas descrever suas características.<br /><br />Essa restrição pode tornar intrinsecamente <span style="font-style: italic;">irredutíveis</span> as duas abordagens - a científica e a pela introspecção, pela autopercepção. Também porque esta última é pessoal - não sei sequer se as outras pessoas compartilham do que sinto a respeito -, enquanto a ciência é baseada no conceito de compartilhamento das experiências (senão, suas teorias não seriam verificáveis!).<br /><br />Essa e outras são questões que desnudam os limites da ciência. A ciência usa métodos rigorosos, mas o preço que temos a pagar é a limitação do que pode ser abordado por esses métodos. Há questões que não podem. E nunca vamos saber com precisão científica a resposta a elas. Pode-se abordá-las de outros modos - uma vez conversei com um cientista da computação que tentava investigar a autopercepção do eu por meio da poesia -, até com religião, se alguém quiser. Mas a ciência não as alcança, por sua própria natureza.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-91379128513376180232011-04-29T02:50:00.007-03:002011-04-29T10:00:27.006-03:00O que ó raios é o bóson de Higgs? E porque tanta gente fala nele?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:CMS_Higgs-event.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 205px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-oJ9YJwXKgqE/TbpSBrIwzdI/AAAAAAAAAac/agq5GzE7REk/s400/higgs2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600879275301457362" border="0" /></a>Quem se liga nesses assuntos talvez tenha tido sua atenção para o casamento de Kate e William quase ofuscada pelas peripécias de uma estranha celebridade: o bóson de Higgs. Nos últimos dias, disse-se e se desdisse que a alcunhada "partícula de Deus" finalmente teria sido descoberta em Genebra, no LHC, o maior acelerador de partículas do mundo. Só que pouquíssima gente sabe o que é esse Higgs, e menos ainda por que está sendo tão caçado.<br /><br />O bóson de Higgs é a última partícula prevista pela teoria atual da física subatômica (o <a href="http://www.sprace.org.br/AventuraDasParticulas/">"Modelo Padrão"</a>) cuja existência ainda não foi confirmada por experimentos. A previsão é consequência de um artifício teórico embutido no modelo para explicar por que quase todas partículas subatômicas têm massa. Por isso, diz-se, popularmente, que eles "são responsáveis" pela massa das partículas, ou mesmo do Universo (daí o apelido "partícula de Deus, dado pelo físico Leon Lederman em 1993). Na verdade, é o artifício teórico (chamado "mecanismo de Higgs") que é responsável por isso; a existência dos bósons de Higgs é uma consequência necessária desse mecanismo.<br /><br />E por que estão todos tão entusiasmados atrás dele? Porque, se não existir, o mecanismo de Higgs também não existe. Logo, a teoria atual estará quase totalmente errada! É difícil de acontecer, pois outras consequências do mecanismo de Higgs já foram observadas. Mas, se for esse o caso, de volta à prancheta de desenho. Ou nem tanto: já há candidatas a teorias alternativas prontas que não prevêem bósons de Higgs, que usam outros artifícios teóricos diferentes do mecanismo de Higgs. Se o futuro reserva algo a elas, é esperar para ver.<br /><br />Mas eu, pessoalmente, não creio que isso explique todo o auê em torno do Higgs. Há outros fatores em jogo. Um deles é que os físicos estão escaldados desde que o Congresso dos Estados Unidos cancelou a construção do que seria o maior acelerador de partículas do mundo, o SSC (Supercolisor Supercondutor), em 1993. Seria maior até mesmo que o LHC (<span style="font-style: italic;">Large Hadron Collisor,</span> ou Grande Colisor de Hádrons), o maior atual. É preciso convencer os governos a financiarem essas imensas máquinas construídas para escrutinar os fenômenos subatômicos (não é pouco: o LHC é basicamente um anel de 27 quilômetros de comprimento). E a quererem construir outras maiores quando o que já se tem não for mais suficiente. Parece que os físicos foram bastante eficientes em convencer a imprensa de que o Higgs vale a pena.<br /><br />Além disso, há o "efeito competição". Apenas dois aceleradores são grandes os suficiente para produzir os bósons de Higgs e, portanto, observá-los (se existirem): o <a href="http://www-bdnew.fnal.gov/tevatron/">Tevatron</a>, em Batavia, Illinois, nos EUA, e o <a href="http://lhc.web.cern.ch/lhc/">LHC</a>, perto de Genebra, o maior de todos. O caso dos EUA é particularmente sensível porque eles perderam o SSC, que seria maior que o dos europeus. Resultado: está <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/03/corrida-pelo-boson-de-higgs.html">dada a largada</a>.<br /><br />O fuzuê desses dias foi porque o pessoal do LHC encontrou indícios da existência do Higgs. Isso já aconteceu algumas vezes - indícios já apareceram nos últimos anos tanto no LHC quanto no Tevatron, mas ainda não foram conclusivos. O problema é que alguém colocou num blog interno do laboratório umas afirmações mais afoitas e parte da imprensa interpretou que eles tinham efetivamente encontrado o bóson. Seguiram-se desmentidos juntamente com ótimas análises desse interessante flagrante de como cientistas também são seres humanos (obviamente) - como este do <a href="http://www.guardian.co.uk/science/2011/apr/28/higgs-boson-rumour-cern-lhc"><span style="font-style: italic;">The Guardian</span></a> e o do blog <a style="font-style: italic;" href="http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/higgs-entre-a-prudencia-e-a-histeria">Questões da Ciência</a>, de Bernardo Esteves.<br /><br />A busca continua.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-77137652588020507872011-04-28T10:17:00.007-03:002011-04-28T11:08:44.810-03:00Unicamp disponibiliza material didático para a sociedade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/OO3ONNS6YNDX/"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 328px; height: 273px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-2Pp5-_waof8/TblxExDTAQI/AAAAAAAAAaU/05bIhGQuyjs/s400/ocw.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600631938312503554" border="0" /></a>A Unicamp acabou de lançar o portal <a href="http://www.ocw.unicamp.br/">OCW</a> (Open Course Ware), que disponbiliza gratuitamente para a sociedade material educacional de seus cursos, inclusive vídeos. O que acho interessante nisso é que neutraliza um pouco a tendência à convergência de cérebros para as grandes universidades. Pessoas de todo o país vão estudar nos grandes centros e a maioria fica lá, não voltam às suas terras de origem. Os maiores talentos tendem a se esvair da periferia, empobrecendo-a de competências. A disponibilização desse material pelo menos diminui um pouco o efeito.<br /><br />O nome, OCW, vem do <a href="http://ocw.mit.edu/index.htm">portal do MIT</a>, nos EUA, que inspirou o projeto e cujo conteúdo está sendo traduzido pelo portal <a href="http://mit.universia.com.br/">Universia</a> (infelizmente, há muitos links quebrados nesse portal). O material do OCW do MIT está livre de direitos autorais. Há outros portais semelhantes, como o <a href="http://cnx.org/">Connexions</a>, da Universidade de Rice, também nos EUA, com conteúdo sob o Creative Commons.<br /><br />Essas duas iniciativas estadunidenses podem produzir efeito semelhante de neutralizar a fuga de cérebros de países em vias de desenvolvimento para países desenvolvidos, o que é um problema muito sério em várias regiões. Na África, por exemplo, há preocupação dos governos em fazer voltar seus estudantes, que ficaram na Europa ou nos EUA e que são parte importante da chamada "diáspora africana".<br /><br />Ainda são poucas disciplinas presentes no OCW da Unicamp, pois o portal acabou de ser lançado e está disponibilizando o material continuamente. Já há conteúdo disponível espalhado pelos sites da universidade, mas é muito difícil para alguém de fora ou mesmo de outras unidades da Unicamp encontrá-los. O portal unifica o acesso.<br /><br />Neste momento, a maioria é das exatas. Quando se clica em uma das disciplinas, textos, vídeos e slides podem ser encontrados no link "Plano de disciplina". Na disciplina "Programação orientada a objetos", por exemplo, há vídeos de mais de uma hora com aulas inteiras. A imagem no início deste texto mostra uma cena de um desses vídeos. A disciplina "Fisiopatologia integrada" contém links para páginas com grande número de material didático sediado no site das Faculdades de Ciências Médicas. Alguns conteúdos estão sediados no próprio site do portal, como um PDF de 149 páginas sobre "Questões Conceituais e práticas da determinação e gestão de custos", da disciplina de "Metodologia de Análise Econômica I".<br /><br />Creio que a quantidade desse tipo de material tende a aumentar exponencialmente nos próximos meses. Prato cheio para curiosos (eu!). Espero que a iniciativa prolifere pelas instituições de ensino superior brasileiras de modo igualmente exponencial.<br /><br />Mais informações: <a href="http://agencia.fapesp.br/13791">Agência Fapesp</a>, <a href="http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=unicamp-portal-conteudos-educacionais">Inovação Tecnológica</a>.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-66469156336824015972011-04-27T16:29:00.007-03:002011-04-27T17:56:35.506-03:00Física e filosofia segundo Heisenberg<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Heisenberg_10.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 324px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-Aotek-h8Z7Y/Tbh8lKVdD2I/AAAAAAAAAaM/-QC8Dgj45Zw/s400/heisenberg.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600363114506555234" border="0" /></a>A <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2009/03/o-que-e-mecanica-quantica.html">mecânica quântica</a> trouxe para o centro da física paradoxos filosóficos até então restritos à metafísica: pôs em questão o princípio da causalidade, a natureza do observador, o conceito de existência e até mesmo a relação entre a consciência e os fenômenos físicos. Alguns, como o problema da consciência, já foram razoavelmente "domados", mas a maior parte permanece até hoje.<br /><br />Assim, pode ser muito interessante conferir a visão sobre tudo isso de alguém que esteve no núcleo dos acontecimentos no principal período de construção da teoria quântica e um dos mais intensos de debate entre esses paradoxos, nas décadas de 1910 e 1920.<br /><br />É isso que Werner Heisenberg faz no livro "Física e filosofia", publicado no Brasil pela editora da Universidade de Brasília. Ele expõe nesse volume o que pensa da física moderna sob vários pontos de vista - físico, filosófico, histórico e até linguístico. Heisenberg não é um qualquer mesmo entre o seleto time dos que fizeram a teoria quântica. Ele foi sozinho o autor da primeira versão completa da mesma, chamada "mecânica matricial", da qual ainda se usa muitos elementos, e também do famoso "princípio da indeterminação", que produziu tantos esclarecimentos quanto problemas sobre a relação entre o observador e o objeto observado e sobre a quebra do princípio da causalidade.<br /><br />Entre os capítulos mais interessantes, estão sua narrativa da história da construção da mecânica quântica e sua visão da interpretação mais aceita da mesma, a "Interpretação de Copenhague" (também dedica um capítulo a seus críticos). Apesar de Heisenberg não ter participado ativamente dos famosos debates filosóficos entre Einstein e Niels Bohr sobre a natureza e a interpretação da teoria, ele teve papel central no seu desenvolvimento epistemológico. Heisenberg estava "do lado" de Bohr nesse debate. Einstein acreditava que a teoria estava incompleta, pois não concebia que a lei da causalidade pudesse ser quebrada ("Deus não joga dados", afirmou). No entanto, as evidências mais recentes apontam que Bohr e Heisenberg provavelmente estavam certos.<br /><br />Outra parte muito atraente são dois capítulos nos quais ele coteja a física moderna - não só a quântica, mas também a teoria da relatividade - com diversos estágios da filosofia ocidental, desde os gregos pré-socráticos até a metafísica sobre o espaço e o tempo de Immanuel Kant (1724-1804). Heisenberg é de uma geração ainda não presa nas fronteiras rígidas de uma fragmentação estanque do conhecimento em suas diferentes áreas. No capítulo sobre a relação da quântica com outras áreas do saber, discute como os conceitos dessa teoria podem se articular ou se comparar com outras áreas da física, da química, biologia e até da psicologia e da arte.<br /><br />Mais adiante, discute as consquências dos paradoxos que a física moderna levantou para as teorias da linguagem e da lógica. A razão da ligação é que vários paradoxos aparentemente insolúveis da quântica aparecem porque, quando descrevemos o mundo subatômico, usamos os mesmos conceitos que quando falamos do mundo macroscópico: posição, partícula, velocidade, trajetória etc. No entanto, essas entidades tão básicas comportam-se de forma radicalmente diferente no micromundo. Os resultados são chocantes, tais como uma partícula estar em vários lugares diferentes ao mesmo tempo; ou então simultaneamente existir e não existir. Devemos usar outra lógica, outra linguagem ou conviver com os paradoxos?<br /><br />Há cientistas que tentaram desenvolver linguagens e lógicas alternativas para se poder falar da física subatômica, como Carl von Weiszäcker. Reflexões de lá para cá diminuíram a agudeza de parte dos problemas (ou talvez as pessoas tenham se acostumado com eles), mas aumentaram a de outros.<br /><br />Finalizo com um depoimento pessoal. Este foi um dos dois ou três livros que mais influenciaram minha própria visão sobre a mecânica quântica. E o capítulo sobre os pré-socráticos foi uma iniciação filosófica que me atiçou a curiosidade sobre esse grupo de filósofos a ponto de nunca mais deixar de ler sobre eles. O mesmo aconteceu sobre Kant e outros.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-54934686695563094252011-04-26T19:07:00.012-03:002011-04-26T21:05:02.593-03:00Elegância científica: a estética das teorias físicas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Mandel_zoom_14_satellite_julia_island.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 200px; height: 266px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-Z5rro2qIWAQ/TbdO33N0WmI/AAAAAAAAAaE/LBkU1vMmaZg/s400/beleza3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600031383280179810" border="0" /></a>Muito entusiasmo existe ao redor da teoria das supercordas, que pretende unificar a mecânica quântica e a relatividade geral, duas teorias em que a física atual está inconciliavelmente cindida. A coisa interessante é que essa teoria unificadora não foi feita a partir de dados experimentais novos, como geralmente acontece. É um construto teórico puro. Então por que seus entusiastas têm tanta convicção de que ela esteja correta? Por que acham que ela sobreviverá quando for possível testá-la com experimentos?<br /><br />O motivo está no conceito de elegância de teorias físicas. Certas teorias e demonstrações matemáticas contêm um tipo específico de beleza capaz de extasiar um espírito que as saiba contemplar. E modelos científicos que não partilham dos elementos dessa peculiar estética chegam a ser desprezados pelos cientistas (apesar de o argumento último ser sempre a concordância com os resultados de experimentos).<br /><br />Não é o mesmo tipo de beleza visual que encontramos, digamos, em uma paisagem natural. Mas pode ter algo em comum com a "beleza conceitual" de uma obra de arte abstrata, ou com o prazer intelectual que um <span style="font-style: italic;">expert </span>em pintura ou em música pode sentir ao perceber os artifícios que o autor usou com maestria para chegar àquele resultado.<br /><br />No entanto, há na elegância na física também uma dimensão prática que permite aos cientistas usarem-na para selecionar suas teorias. O conceito foi popularizado entre os leigos pelo livro de Brian Greene, "O Universo elegante". Vou tentar transmitir ao leitor uma percepção do que seja isso por meio do exemplo da <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2009/02/o-que-e-teoria-da-relatividade-especial.html">teoria da relatividade especial</a>, feita por Einstein em 1905.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">A elegância absoluta da relatividade especial</span><br /><br />A teoria da relatividade especial é aquela do E = mc², a equação que exprime a equivalência entre matéria e energia. Note que é uma equação bem compacta. Primeiro, vamos apreciar a disparidade entre a simplicidade dessa equação e a quantidade de conceitos que ela embute.<br /><br />A equivalência entre massa e energia por si só já é uma consequência surpreendente da relatividade. A equação implica em que energia tem inércia e também peso. E também que matéria pode ser transformada em energia e vice-versa. Tudo isso sintetizado em três letrinhas e um número. Esse tipo de <span style="font-style: italic;">grande poder de síntese</span> é um elemento importante na estética das teorias físicas.<br /><br />Além disso, com ela pode-se <span style="font-style: italic;">explicar vários fenômenos aparentemente distintos. </span>Com a relatividade, mostrou-se que os princípios físicos que explicam a fonte de energia que mantém as estrelas e o Sol brilhando por bilhões de anos são os mesmos que governam o fenômeno da radioatividade, que são os mesmos que governam os reatores de usinas nucleares.<br /><br />Há mais. Uma teoria possui algumas premissas, a partir das quais se demonstra o restante. Teorias elegantes possuem premissas<span style="font-style: italic;"> simples e ao mesmo tempo profícuas.</span> Teorias "feias" introduzem premissas <span style="font-style: italic;">ex-machina</span> a todo instante para poderem salvar-se (em geral, estas são descartadas). Bem, as premissas da relatividade especial são extraordinariamente simples:<br /><ul><li>As leis da física independem da velocidade do observador</li><li>A velocidade da luz no vácuo é sempre a mesma para qualquer observador</li></ul>A primeira parece óbvia; a segunda é bem menos intuitiva. Mas o importante aqui é que é possível extrair <span style="font-style: italic;">todo</span> o conteúdo da relatividade especial daí, tais como a própria equação E = mc² e a relatividade do tempo (observadores diferentes vêem o fluxo do tempo passar diferentemente). No caso das supercordas, uma de suas características mais elegantes é que existência da força da gravidade não precisa ser postulada, ela emerge naturalmente de seu formalismo matemático.<br /><br />A relatividade especial possui também uma incrível <span style="font-style: italic;">elegância matemática:</span> é possível fazer tudo isso - extrair todas essas consequências daquelas premissas simples - com cálculos curtos <span style="font-style: italic;">com apenas a matemática do ensino médio!</span> Quando eu vi essa demonstração pela primeira vez, tanta coisa emergindo de repente de tão pouco, tive uma de meus mais inesquecíveis momentos de prazer estético-intelectual.<br /><br />Não que a matemática de uma teoria elegante tenha que ser tão básica: em geral, é bastante sofisticada, mas, se for possível escrevê-la de forma simples e que proporcione demonstrações poderosas e diretas, isso já é mais que suficiente.<br /><br />Finalmente, a relatividade possuía um enorme <span style="font-style: italic;">poder preditivo</span>. Quando foi formulada, nenhum desses fenômenos - inércia e peso da energia, relatividade do tempo, possibilidade de transformar energia em matéria - nada disso era conhecido. Todos foram previstos. Uma teoria elegante é capaz de prever muitos fenômenos diferentes novos.<br /><br />No entanto, é importante lembrar que a teoria da relatividade não é considerada correta porque é elegante, mas sim porque suas previsões concordam com as observações feitas em laboratório. Esse é (ou deveria ser) o tira-teima definitivo de uma teoria física.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-21455245275903633522011-04-25T17:33:00.009-03:002011-04-26T03:13:23.021-03:00Experimentos com tempo psicológico<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sanduhren.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 183px;" src="http://3.bp.blogspot.com/--gY2Pg1RBeg/TbXjSchCHlI/AAAAAAAAAZc/fsDatXeP3eU/s400/ampulheta.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5599631617736973906" border="0" /></a>Sim, isso é uma verdade: por alguma razão, o tempo parece passar cada vez mais rápido. E isso me incomoda. Muito. O que se pode fazer a respeito?<br /><br />Era fevereiro de 1992 e eu estava muito aborrecido com a velocidade com que as férias passavam. Quando eu era criança, pareciam demorar muito mais! Então comecei a procurar as causas dessa diferença de percepção temporal. Como evitar a sensação de que minha vida estivesse indo embora por entre meus dedos?<br /><br />Tirei duas conclusões.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">A neura do tempo - </span>Primeira. Em tudo que eu fazia, eu estava quase sempre com o olho no relógio de pulso, mesmo que não houvesse prazo envolvido. A cabeça sempre no futuro, que horas são, quanto tempo falta, quanto tempo passou.<br /><br />Por outro lado, pareceu-me que, quando eu brincava quando criança, estava com a cabeça focada totalmente no presente, naquele momento.<br /><br />Então minha primeira providência foi simpesmente parar de usar relógio de pulso, esse chamariz de assaltantes. Mas como saber as horas?? Ora, estão em todo lugar: no canto inferior direito da tela do computador, no braço do cara sentado ao seu lado no ponto de ônibus, no mostrador no meio da rua, no seu celular...<br /><br />Além disso, quando deixei de usar relógio, rapidamente comecei a desenvolver um sentido de tempo intuitivo. Passei a saber mais ou menos quanto tempo passou sem precisar consultar nada.<br /><br />Não se preocupe, você não vai chegar atrasado se não usar relógio no braço...<br /><br />Sem falar que muitas vezes a gente simplesmente não precisa olhar as horas. Você saiu de casa às 14:00, certo? Para que ficar consultando o relógio a cada minuto até chegar no seu destino? Senti-me muito melhor depois que comecei a desencanar-me do tempo nesse tipo de situação.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Rotinas, dias iguais - </span>A segunda conclusão veio de uma observação. Há dias em que, à noite, parece que a manhã foi no dia anterior. O que esses dias têm de especial é que neles eu faço coisas muito diferentes de manhã e de tarde. Acontece muito quando chego de viagem de manhã, leio o noticiário até o almoço, trabalho de tarde e saio para algum lugar de noite, por exemplo.<br /><br />Por outro lado, as rotinas parecem fazer os dias ficarem muito parecidos uns com os outros. O dia de hoje fica muito semelhante ao dia de dois meses atrás - e a percepção temporal pode ser muito afetada por isso; a gente olha para o passado e parece que não passou tempo nenhum entre os dois momentos. Talvez, se eu arrumasse um jeito de individualizar melhor meus dias, poderia alargar minha sensação de tempo.<br /><br />Tentei individualizar meus dias anotando a cada dia um evento que o distinguisse. Um dia eu vi um cara quase cair da bicicleta na rua, anoto: "12/02/1992 - Um cara quase caiu da bicicleta na rua". No outro dia vi um filhote de cachorro branco perdido na universidade, escrevo isso. Da minha experiência com isso, digo o seguinte: é impressionante a quantidade de coisas interessantes que vemos acontecer quando as <span style="font-style: italic;">procuramos.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Dá certo - </span>Comecei a fazer isso no dia 12 de fevereiro de 1992. Resultado? Sensacional! O tempo que passou dali até o fim das férias pareceu bem maior do que o tempo desde o início delas até ali! Fiquei muito surpreso.<br /><br />De lá para cá, venho adotando essas estratégias (nunca mais usei relógio) e têm funcionado muito bem.<br /><br />Certamente deve haver muitos estudos bem mais sistemáticos sobre a percepção temporal. Por enquanto, fico com esses experimentos pessoais. Pessoais, detalhe. Pois outras pessoas podem ter diferentes soluções - ou simplesmente preferirem que o tempo "interior" passe mais rápido.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-31917601734076502782011-04-22T11:56:00.010-03:002011-04-22T19:29:52.225-03:00O poder do zero: experimentos que não encontram nada podem nos ensinar muito<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Amperemeter_hg.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 270px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-SspS_SfSnHQ/TbGqCNdQsJI/AAAAAAAAAZU/oSTsm20KuRM/s400/zero1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5598442766747086994" border="0" /></a>Quando físicos encontram algo diferente em seus experimentos, pode dar notícia de jornal. Quando não encontram nada, bem... Também pode! <a href="http://scienceblogs.com.br/universofisico/2011/04/particulas_elementares_quando.php?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+scienceblogs%2Fbrasil+%28ScienceBlogs.com.br+%3A+Combined+Feed%29">Esta postagem</a> do Igor Zolnerkevic no seu blog <a href="http://scienceblogs.com.br/universofisico/">Universo Físico</a> dá três exemplos recentes, um dos quais mereceu até menção no <span style="font-style: italic;">New York Times.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Resultados nulos podem causar revoluções - </span>O caso mais famoso de resultado nulo para um experimento talvez seja o da experiência de Michelson-Morley, na década de 1880, que produziu nada menos que uma das principais bases empíricas da <a href="http://afisicasemove.blogspot.com/2009/02/o-que-e-teoria-da-relatividade-especial.html">teoria da relatividade</a>. Acreditava-se então que a luz era uma onda que se propagava em um meio material a que chamavam éter e que permearia todo o espaço em todos os seus interstícios. O experimento procurou detectar qual a velocidade da Terra em relação ao éter. O pano de fundo era uma incompatibilidade aparentemente insolúvel entre a mecânica e o eletromagnetismo. Um dos dois tinha que estar errado.<br /><br />Para medir a velocidade da Terra em relação ao éter, observaram diferenças na velocidade da luz vindas de diferentes direções. Se a velocidade fosse maior numa direção, é que a Terra estaria se deslocando para lá - assim como a velocidade de um carro na estrada é maior em relação aos automóveis que vêm em sentido contrário. Mas... não encontraram diferença alguma para qualquer direção! Como poderia ser isso? Após excluírem algumas possibilidades, o resultado sustentou o "vencedor" para a queda-de-braço entre mecânica e eletromagnetismo: este último estava certo e a velha mecânica newtoniana teve que ser alterada, sendo substituída pela relatividade quando velocidades são muito grandes, próximas à da luz.<br /><br />Claro que resultados nulos que desafiem teorias vigenetes podem ser apenas uma ilusão, um erro de experimento, uma coincidência. O terceiro exemplo do texto do <a href="http://scienceblogs.com.br/universofisico/2011/04/particulas_elementares_quando.php?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+scienceblogs%2Fbrasil+%28ScienceBlogs.com.br+%3A+Combined+Feed%29">Universo Físico</a> trata disso, na área da astrofísica. O contrário também pode ser verdadeiro: achados extraordinários podem revelar-se, após uma análise mais cuidadosa, serem apenas variações estatísticas normais sem maiores significados. Disso trata o primeiro exemplo, sobre aparentes indícios de uma força física desconhecida. Ambas precisam de mais investigações para se tornarem conclusivas.<br /><br />Para evitar essas armadilhas, foram desenvolvidas técnicas estatísticas sofisticadas de análise dos dados e também a necessidade de posturas muito cuidadosas. Não poucos cientistas que se entusiasmaram demais antes do tempo tiveram que aceitar calados um desmonte fulminante de suas esperanças. Isso pode ter acontecido recentemente na área da cosmologia com um dos maiores físicos da atualidade, Roger Penrose (vide os dois últimos parágrafos <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/04/como-saber-o-que-houve-antes-do-big.html">deste post</a>). Outra controvérsia do tipo, sobre o efeito do acesso livre a artigos científicos sobre o número de citações dos mesmos, é comentada nos dois últimos parágrafos da primeira seção <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/04/acesso-livre-artigos-cientificos-as.html">desta outra postagem</a>. Mesmo nesses casos, os resultados aparentemente nulos nos ensinam sobre como aperfeiçoar os métodos científicos.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Resultados nulos podem aumentar o conhecimento - </span>Resultados nulos podem também, paradoxalmente, nos fornecer informações <span style="font-style: italic;">a mais.</span> Desse tipo é o segundo exemplo comentado no texto do <a href="http://scienceblogs.com.br/universofisico/2011/04/particulas_elementares_quando.php?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+scienceblogs%2Fbrasil+%28ScienceBlogs.com.br+%3A+Combined+Feed%29">Universo Físico</a>, sobre a matéria escura. Já em <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/03/corrida-pelo-boson-de-higgs.html">outra postagem</a> no <span style="font-style: italic;">Ciências e Adjacências</span>, no final do texto, falo sobre um experimento para detectar os bósons de Higgs, partículas previstas pelo modelo teórico atual mas ainda nunca observadas. A teoria não diz qual deva ser sua massa, só sabemos que é grande demais para serem produzidos pelos aparelhos atuais. Pois eis que o dito experimento detectou... nada.<br /><br />Não significa, porém, que o Higgs não exista. Ao invés, com esse experimento pôde-se prever sua massa de forma mais precisa. Como não se sabe sua massa, são feitos vários experimentos, supondo diferentes valores para ela. Cada vez que o bóson não é encontrado, aprendemos que, se existirem, eles não terão aquela massa procurada. Por exemplo, antes achava-se que a sua massa deveria estar entre 123 e 198 vezes a massa de um próton. O novo experimento conseguiu excluir a faixa entre 160 e 170 "prótons". E assim os resultados nulos vão aumentando nosso conhecimento que a teoria não é capaz de fornecer - pelo menos, o "conhecimento hipotético". Vai-se "fechando o cerco" ao bóson de Higgs.<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">P.S. - </span><span style="font-style: italic;">Os resultados nulos ou "negativos" de experimentos são tão importantes que o Roberto Takata me enviou os links de três periódicos científicos inteiramente dedicados a resultados negativos em Biologia e Ciências da Saúde:</span><br /><ul><li style="font-style: italic;"><a href="http://www.jnrbm.com/">Journal of Negative Results in Biomedicine</a></li><li><a style="font-style: italic;" href="http://www.jnr-eeb.org/index.php/jnr">Journal of Negative Results</a> (Ecology & Evolutionary Biology)</li><li style="font-style: italic;"><a href="http://www.pnrjournal.com/">Journal of Pharmaceutical Negative Results</a></li></ul>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-90103677170781415612011-04-21T11:20:00.007-03:002011-05-03T22:44:47.414-03:00Fique por dentro da física moderna<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-VmMnW-OHPWc/TbBAMm0dC8I/AAAAAAAAAZM/z8K4kqEX6Lo/s1600/gribbin.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 212px; height: 350px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-VmMnW-OHPWc/TbBAMm0dC8I/AAAAAAAAAZM/z8K4kqEX6Lo/s400/gribbin.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5598044922144689090" border="0" /></a>Várias pessoas curiosas a respeito da mecânica quântica já me pediram sugestões de livros acessíveis a leigos. Para quem vê o assunto pela primeira vez, costumo indicar o de John Gribbin, "Fique por dentro da física moderna", editora Cosac & Naify (2001).<br /><br />Não foi fácil escolher. Em geral as obras de divulgação sobre quântica e relatividade ou são demasiadamente complexas - por mais que seus autores não achem - ou são simples mas contém imprecisões demais - em geral, na forma de metáforas mal formuladas. De fato, a simplificação tende a prejudicar a precisão, e o excesso de precisão pode impedir a inteligibilidade.<br /><br />No início, eu simplesmente não tinha opções que me pareciam satisfatórias para sugerir. Até descobrir esse livrinho. Creio que o astrofísico e divulgador científico britânico <a href="http://www.johngribbin.co.uk/">John Gribbin</a> achou, em suas obras, um jeito de explicar a física de forma extremamente acessível e ao mesmo tempo suficientemente precisa, que atingiu seu ápice neste volume.<br /><br />Esse livro não e só sobre mecânica quântica: cobre também as teorias da relatividade, a cosmologia e a física das partículas e tem uma introdução sobre a física clássica (pré-relatividade e pré-quântica), necessária para se compreender o que veio a seguir. A preocupação é em explicar os conceitos. Um ponto fraco está justamente em falar muito pouco sobre as bases experimentais das teorias.<br /><br />A acessibilidade não vem só do estilo do texto, mas também do formato. Cada par de páginas é quase autocontido, com um conjunto de pequenos textos e boxes com explicações adicionais, palavras-chave ou pequenas biografias dos cientistas envolvidos. O leitor pode seguir o livro da primeira à última ou deliciar-se folheando-o e se detendo no que lhe der mais prazer. Eu sugiro ambas simultaneamente: uma leitura sequencial ao mesmo tempo em que o leitor explora as páginas do resto do livro, totalmente à mercê de sua própria curiosidade.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-12248682866850536432011-04-20T12:09:00.012-03:002011-04-20T13:35:24.239-03:00Xylella após o sequenciamento: as pesquisas continuam<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/-71soMHbGis0/Ta77S9EvFUI/AAAAAAAAAY8/encx9wHIWjw/s1600/XfPrxQ.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 254px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-71soMHbGis0/Ta77S9EvFUI/AAAAAAAAAY8/encx9wHIWjw/s400/XfPrxQ.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5597687689918747970" border="0" /></a>No ano 2000, o <a href="http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=849&bd=1&pg=1&lg=">sequenciamento</a> do genoma da <span style="font-style: italic;">Xylella fastidiosa</span>, a bactéria que causa a praga do amarelhinho em 34% dos pomares de laranjas paulistas (dados de 2000), retumbou na imprensa do país. Foi o primeiro fitopatógeno sequenciado no mundo. De lá para cá, vários cientistas tentam desdobrar esse conhecimento em capacidade de combater a praga.<br /><br />Percebi quanto ainda há nesse caminho quando li um <a href="http://www.jbc.org/content/early/2010/03/24/jbc.M109.094839">artigo</a> de Luis Eduardo Soares Netto, biólogo da USP. Para explicar minha impressão, devo antes falar algo sobre como acontece a luta da <span style="font-style: italic;">Xylella</span> contra a laranjeira. Quando a <span style="font-style: italic;">Xylella</span> ataca uma planta, esta reage produzindo substâncias capazes de destruir a bactéria. A <span style="font-style: italic;">Xylella</span>, porém, contra-ataca produzindo certas enzimas que neutralizam o ataque da planta. São vários tipos de enzimas - acontece uma verdadeira guerra química nas células da laranjeira.<br /><br />Naturalmente, saber todo o possível sobre essas enzimas bacterianas é um passo fundamental no aperfeiçoamento de técnicas para combater o amarelinho. Acontece que ainda há grandes lacunas nessa área, apesar do conhecimento sobre o genoma.<br /><br />Tome-se, por exemplo, um dos principais tipos de enzima da <span style="font-style: italic;">Xylella</span>, as perorredoxinas de classe 1 (há quatro classes de perorredoxinas). Como elas não aparecem em nenhum mamífero, têm potencial para a fabricação de drogas contra o amarelinho que não causem efeito em nós, humanos. Apesar disso, sabe-se muito pouco sobre sua estrutura molecular. No <a href="http://www.rcsb.org/pdb/">Protein Data Bank</a>, um portal de informações sobre biologia molecular vastamente usado por cientistas, havia pouquíssimos dados sobre a classe 1 até a publicação do artigo de Soares Netto - e, mesmo assim, só foram depositados na época em que sua pesquisa estava sendo feita. Sou físico, não biólogo. Foi quando vi isso que caiu-me a ficha de como é longo o caminho para transformar conhecimento genômico em tecnologia.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Uma pequena grande contribução</span><br /><br />O caminho ficou um tanto menor com a pesquisa de Soares Netto. Vou falar um pouco sobre ela. Ela desvendou toda a estrutura molecular de uma das perorredoxinas de classe 1 (na verdade, de uma versão levemente alterada da original produzida pela <span style="font-style: italic;">Xylella, </span><span>por motivos técnicos</span>). O nome dessa perorredoxinas não é muito bonito: XfPrxQ-C47S. O "Xf" é de <span style="font-style: italic;">Xylella</span><span style="font-style: italic;"> fastidiosa</span>, o "Prx" é de peroredoxina e o "Q" é para distinguir entre as diferentes peroredoxinas; o C47S é para indicar a alteração na versão original. Isto significa que agora se sabe a posição de <span style="font-style: italic;">cada átomo </span>de sua molécula! Uma contribuição bastante substancial para o banco de dados...<br /><br />A imagem abaixo é um esquema dessa estrutura. É constituída de uma cadeia linear de 159 aminoácidos (as unidades constitutivas de proteínas e enzimas) e 172 moléculas de água. O desenho não distingue cada átomo, mas representa a sequência de aminoácidos por linhas, espirais (indicadas por "α") e fitas ("β", quando eles se emaranham de modo a formar uma fita).<br /><br />É difícil seguir a série a olho, está tudo muito embolado, mas ela começa na extremidade indicada por "N" e termina na "C"; e há uma interrupção no alto porque dois aminoácidos não puderam ter suas posições determinadas com exatidão (assunto para pesquisas futuras!). Se quiser seguir o "novelo", a sequência é esta: α1-β1-β2-α2-β3-α3-β4-α4-β5-α5-β6-β7-β8-β9-α6. Isto foi feito por meio de <span style="font-style: italic;">cristalografia de raios-X</span> no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas (os raios-X <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/03/os-raios-x-como-voce-nunca-viu.html">servem para muito mais coisas</a> que tirar chapas radiográficas do corpo humano!).<br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Wcdb815ORW0/Ta8FmNGTpXI/AAAAAAAAAZE/P9kCVvq_bRk/s1600/XfPrxQgde.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 346px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/-Wcdb815ORW0/Ta8FmNGTpXI/AAAAAAAAAZE/P9kCVvq_bRk/s400/XfPrxQgde.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5597699015754098034" border="0" /></a>Os cientistas puderam também montar um modelo provável de como a estrutura molecular da enzima se altera durante a reação química que neutraliza as defesas da laranjeira. O artigo foi publicado em março do ano passado (e contém mais novidades do que comentei aqui). Não pude verificar se houve avanços de lá para cá, mas certamente muita coisa se desdobrará dessa contribuição.Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-45401464802386163502011-04-19T11:36:00.007-03:002011-04-19T12:24:49.057-03:00Como saber o que houve antes do Big-Bang?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://wmap.gsfc.nasa.gov/media/101080/"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 293px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-KeIBwya2AEA/Ta2fHs29CAI/AAAAAAAAAYs/_4G9biPnywc/s400/cmb3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5597304866540947458" border="0" /></a>Escrevi para a última edição da revista <a href="http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/">Pré-Univesp</a> um <a href="http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/1602/antes-do-big-bang.html">artigo</a> sobre como os cientistas concluíram que houve um Big-Bang (quais as principais evidências) e como investigam o que pode ter havido <span style="font-style: italic;">antes </span>(sim, há muitos cientistas pesquisando um hipotético "antes do Big-Bang")<span style="font-style: italic;">.</span> Aqui vou complementá-lo falando sobre alguns métodos para se testar teorias alternativas ao modelo atual do Big-Bang, nas antes desse grade evento cósmico houve uma era infinita - o Universo não teria tido um começo.<br /><br />Desde o fim dos anos 1990, estão surgindo várias teorias alternativas. Não que o Big-Bang possa nunca ter existido, pois as evidências são muito contundentes (ainda que existam uns poucos modelos científicos que tentam compatibilizar as evidêncais com a hipótese de que não tenha acontecido o Big-Bang). Essas teorias são espécies de refinamentos da teoria atual - prevêem um (ou mais) Big-Bang, mas os detalhes são bem diferentes.<br /><br />Como testá-las para saber qual se adequa mais à realidade física observada? O principal tira-teima é a radiação cósmica de fundo. Ela chega à Terra vinda de todas as direções quase homogeneamente. A teoria diz que apareceu cerca de 380 mil anos após o Big-Bang, quando os átomos se formaram. Antes, a matéria era composta de partículas carregadas eletricamente, formando um conjunto opaco à luz; quando essas partículas se combinaram para formar átomos eletricamente neutros, a luz foi subitamente liberada. Como isso aconteceu em todos os pontos do espaço, ela vem de todas as direções (veja mais sobre ela <a href="http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/1605/admir-vel-cosmologia-nova.html">neste artigo</a> de Victória Flório na mesma edição da revista Pré-Univesp).<br /><br />A radiação cósmica de fundo é também uma das principais evidências do próprio modelo do Big-Bang em si, pois cálculos detalhados previram a sua existência. Além disso, cálculos posteriores a partir de 1981 previram a distribuição estatística de pequeninas variações na sua frequência, o que foi também confirmado a partir de 1992.<br /><br />E são essas variações, ou flutuações, que os cosmólogos escrutinam para ver se há indícios de que o modelo atual do Big-Bang (chamado tecnicamente Lambda-CDM) precisa ser revisto. Abaixo, um "mapa-múndi" do céu mostrando a distribuição da variação das frequências da radiação de fundo. Quanto mais vermelho, maior a frequência; quando mais azul, menor. O mapa é fruto de sete anos de observações feitas pela <a href="http://wmap.gsfc.nasa.gov/media/101080/">Sonda Wilkinson de Anisotropias de Microondas (WMAP)</a>, que se encontra em órbita do Sol, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.<br /><br /><a href="http://wmap.gsfc.nasa.gov/media/101080/"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 210px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-7x-kIQuRQ6Q/Ta2iFGHWO-I/AAAAAAAAAY0/CqUD2jvNlGI/s400/cmbtotal.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5597308120315870178" border="0" /></a><br /><span style="font-weight: bold;">Como saber o que aconteceu antes do Big-Bang</span><br /><br />Boa parte das pesquisas em modelos alternativos dedica-se a encontrar padrões regulares nessas manchinhas. Em geral, conjuntos de círculos. Isso é uma atividade capciosa, pois todos sabem que, se olharmos muito para um monte de manchas, podemos ver qualquer coisa ali (aliás, você consegue enxergar alguma coisa especial nesse mapa acima?). Além disso, os padrões podem existir mesmo, mas podem ser ocorrências estatísticas normais (coincidências previsíveis). Aquele acúmulo de vermelhos à direita, por exemplo, significaria algo? Ou é só uma coincidência?<br /><br />Por isso, são necessárias técnicas estatísticas sofisticadas para decidir se os padrões vistos são reais ou são apenas artefatos da mente humana, ou ainda se são ocorrências reais, mas sem significado estatístico.<br /><br />Cada modelo prevê diversas estruturas nessas manchas que o modelo atual não prevê - e, por isso, os padrões podem ser usados para distinguir entre os modelos. Uma coisa interessante acontece nos modelos que dizem que Big-Bang não foi o começo de tudo, mas um grande evento cósmico no meio da história do Universo. Teria havido um antes e um depois, ambos infinitos no tempo. O cosmo teria, no passado remoto, se contraído, aí sofrido uma súbita inversão nesse movimento - um "ricochete" - e então passado a se expandir, estágio em que estamos atualmente (observa-se que os grupos de galáxias estão sistematicamente se afastando uns dos outros).<br /><br />Alguns desses modelos prevêem que imensos eventos cataclísmicos na fase pré-Big-Bang, como colisões de buracos negros supermassivos, podem ter produzido ondas gravitacionais que <span style="font-style: italic;">sobreviveram ao Big-Bang </span>e teriam gerado sutis ondas de choque circulares no Universo atual. Essas ondas teriam deixado marcas na radiação de fundo, na forma de conjuntos de círculos. No ano passado, um dos físicos mais famosos da atualidade, Roger Penrose, causou agitação no meio científico quando <a href="http://physicsworld.com/cws/article/news/44388">afirmou ter visto sinais</a> de uma versão sua dessa teoria. No entanto, a interpretação de seus cálculos estatísticos foi contestada por outros pesquisadores e a situação continua controversa.<br /><br />Na verdade, muitos círculos e outras figuras<span style="font-style: italic;"> já foram vistos</span> nesse mapa. No entanto, quase todos mostraram-se ou ilusões ou estatisticamente previsíveis. Há uns poucos inconclusivos. O problema é que aparentemente a precisão da tecnologia atual não é suficiente para enxergar detalhes além dos que o modelo atual já prevê. Mas é possível que num futuro próximo algo interessante emerja dessas manchinhas.<br /><span style="font-style: italic;"></span><blockquote><span style="font-style: italic;">Veja também, neste blog: </span><a style="font-style: italic;" href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/03/o-que-havia-antes-do-big-bang-um-buraco.html">O que havia antes do Big-Bang? Um buraco negro?</a><span style="font-style: italic;"> - sobre um dos modelos alternativos.</span></blockquote>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4781215024542377322.post-56681093762959494082011-04-18T18:03:00.011-03:002011-04-19T00:05:11.613-03:00Acesso livre a artigos científicos: as barreiras<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.flickr.com/photos/wakingtiger/3157622608/in/photostream"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 220px; height: 260px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-5rMN7U1Cqoo/TayzArDaBgI/AAAAAAAAAYk/3plmaq9jN2M/s400/openacess.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5597045261053068802" border="0" /></a>O acesso livre está se espalhando pelos periódicos científicos. No Brasil e vários países da América Latina, temos o portal <a href="http://www.scielo.org/php/index.php">Scielo</a>, que cobre todas as áreas. Até a <span style="font-style: italic;">Physical Review Letters</span>, o principal periódico de física do mundo, começou a colocar alguns de seus artigos com acesso livre desde fevereiro deste ano (veja o <a href="http://prl.aps.org/pdf/PRL/v106/i7/e070001">editorial</a> deles sobre isso, em PDF).<br /><br />No entanto, as editorias científicas ainda resistem a aderir à nova estratégia. Há inclusive alguns refluxos (como o susto de janeiro, quando vários periódicos de medicina <a href="http://scidev.net/en/features/hinari-and-the-dream-of-free-journal-access.html">retiraram-se</a> do programa Himrari - <span style="font-style: italic;">Health InterNetwork Access to Research Initiative</span> -, da ONU que garantia acesso livre em países em vias de desenvolvimento). Um estudioso do assunto, Stevan Harnad, avalia que em 2020 apenas um quarto dos periódicos científicos terão acesso livre.<br /><br />Um <a href="http://www.scidev.net/en/editorials/open-access-not-just-about-citations-1.html">editorial</a> do Scidev de 15 de abril abordou o assunto. Segundo uma pesquisa de uma comissão da União Europeia comentada no texto, o principal desestímulo para os cientistas aceitarem submeter seus trabalhos ao acesso livre é o dinheiro - muitos periódicos cobram dos autores pelo acesso livre a seus trabalhos. É o caso da <span style="font-style: italic;">Physical Review Letters</span> citado acima. Outro motivo é que os cientistas preferem publicar nos periódicos de grande circulação, e a maior parte desses são de acesso restrito.<br /><br />Cientistas ficam de olho também no número de citações de seus trabalhos, pois este é um dos parâmetros mais importantes dos sistemas de avaliação de desempenhos de pesquisadores. Foram uma ducha fria, então, os <a href="http://www.scidev.net/en/news/open-access-gets-more-readers-but-not-more-citations-1.html">comentários</a> que circularam na Internet sobre um <a href="http://www.fasebj.org/content/early/2011/03/29/fj.11-183988.full.pdf+html">trabalho</a> de Phillip Davis (da Universidade de Cornell, nos EUA), publicado no periódico <span style="font-style: italic;">FASEB</span>, que concluiu que artigos com acesso livre não são mais citados que os outros, apesar de obviamente serem mais lidos.<br /><br />Porém, outro pesquisador, Stevan Harnad, da Universidade de Montréal, no Canadá, contestou a medotologia estatística usada por Davis em um dos comentários sob o editorial do Scidev. Em <a href="http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0013636">outro trabalho</a>, publicado no ano passado, ele detectou um aumento significativo nas citações de artigos submetidos ao acesso livre.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Mas o que tem a ver acesso livre com número de citações!?</span><br /><br />Há que se notar também que o número de citações não é nem de longe a principal vantagem do acesso livre. E nem poderia ser, se o objetivo primordial é garantir acesso a quem não pode pagar. Essas pessoas, em princípio, vivem em países com pouca tradição científica e publicam muito menos trabalhos que os do Primeiro Mundo. Veja-se, por exemplo, os mapas sobre a distribuição geográfica das citações científicas que comentei em <a href="http://cienciaseadjacencias.blogspot.com/2011/03/geografia-das-citacoes-cientificas.html">outra postagem</a>. É surpreendente que mesmo assim Harnad tenha detectado um aumento no número de citações, ou mesmo que Davis não tenha detectado uma diminuição.<br /><br />A importância do acesso livre fica patente se lembrarmos que os problemas típicos dos países mais pobres muitas vezes não são os países mais ricos, possuindo especificidades próprias - e, portanto, necessitam de pesquisas feitas dentro desses países. Mas essas pesquisas são baseadas, como sempre, em pesquisas anteriores, a maior parte feita no Hemisfério Norte. Sem acesso a elas, em instituições que não podem pagar a assinatura, as pesquisas ficam extremamente difíceis. Enquanto isso, em outros lugares ela é feita na velocidade da Internet...<br /><br />Além disso, não são apenas cientistas que usufruem dos artigos. Estudantes, engenheiros, gente que trabalha com saúde, jornalistas, divulgadores científicos, gente curiosa - muitas outras pessoas podem usufruir dele.<br /><br />Desta forma, é preciso aperfeiçoar as estratégias de difusão do acesso livre nos periódicos científicos e também rever os métodos de avaliação de desempenho de pesquisadores - a se julgar pelos resultados da pesquisa de Davies, eles são um entrave para a adesão de cientistas ao acesso livre.<br /><blockquote style="font-style: italic;"><span style="font-size:85%;">Imagem: Flickr de <a href="http://www.flickr.com/photos/wakingtiger/3157622608/in/photostream">Gideon Burton</a></span></blockquote>Roberto Belisáriohttp://www.blogger.com/profile/07050595891249187832noreply@blogger.com2