Ciência & cultura, ciência & arte, ciência & política, ciência & sociedade, ciência & não-ciência... enfim: ciência & crítica

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Experimentos com tempo psicológico

Sim, isso é uma verdade: por alguma razão, o tempo parece passar cada vez mais rápido. E isso me incomoda. Muito. O que se pode fazer a respeito?

Era fevereiro de 1992 e eu estava muito aborrecido com a velocidade com que as férias passavam. Quando eu era criança, pareciam demorar muito mais! Então comecei a procurar as causas dessa diferença de percepção temporal. Como evitar a sensação de que minha vida estivesse indo embora por entre meus dedos?

Tirei duas conclusões.

A neura do tempo - Primeira. Em tudo que eu fazia, eu estava quase sempre com o olho no relógio de pulso, mesmo que não houvesse prazo envolvido. A cabeça sempre no futuro, que horas são, quanto tempo falta, quanto tempo passou.

Por outro lado, pareceu-me que, quando eu brincava quando criança, estava com a cabeça focada totalmente no presente, naquele momento.

Então minha primeira providência foi simpesmente parar de usar relógio de pulso, esse chamariz de assaltantes. Mas como saber as horas?? Ora, estão em todo lugar: no canto inferior direito da tela do computador, no braço do cara sentado ao seu lado no ponto de ônibus, no mostrador no meio da rua, no seu celular...

Além disso, quando deixei de usar relógio, rapidamente comecei a desenvolver um sentido de tempo intuitivo. Passei a saber mais ou menos quanto tempo passou sem precisar consultar nada.

Não se preocupe, você não vai chegar atrasado se não usar relógio no braço...

Sem falar que muitas vezes a gente simplesmente não precisa olhar as horas. Você saiu de casa às 14:00, certo? Para que ficar consultando o relógio a cada minuto até chegar no seu destino? Senti-me muito melhor depois que comecei a desencanar-me do tempo nesse tipo de situação.

Rotinas, dias iguais - A segunda conclusão veio de uma observação. Há dias em que, à noite, parece que a manhã foi no dia anterior. O que esses dias têm de especial é que neles eu faço coisas muito diferentes de manhã e de tarde. Acontece muito quando chego de viagem de manhã, leio o noticiário até o almoço, trabalho de tarde e saio para algum lugar de noite, por exemplo.

Por outro lado, as rotinas parecem fazer os dias ficarem muito parecidos uns com os outros. O dia de hoje fica muito semelhante ao dia de dois meses atrás - e a percepção temporal pode ser muito afetada por isso; a gente olha para o passado e parece que não passou tempo nenhum entre os dois momentos. Talvez, se eu arrumasse um jeito de individualizar melhor meus dias, poderia alargar minha sensação de tempo.

Tentei individualizar meus dias anotando a cada dia um evento que o distinguisse. Um dia eu vi um cara quase cair da bicicleta na rua, anoto: "12/02/1992 - Um cara quase caiu da bicicleta na rua". No outro dia vi um filhote de cachorro branco perdido na universidade, escrevo isso. Da minha experiência com isso, digo o seguinte: é impressionante a quantidade de coisas interessantes que vemos acontecer quando as procuramos.

Dá certo - Comecei a fazer isso no dia 12 de fevereiro de 1992. Resultado? Sensacional! O tempo que passou dali até o fim das férias pareceu bem maior do que o tempo desde o início delas até ali! Fiquei muito surpreso.

De lá para cá, venho adotando essas estratégias (nunca mais usei relógio) e têm funcionado muito bem.

Certamente deve haver muitos estudos bem mais sistemáticos sobre a percepção temporal. Por enquanto, fico com esses experimentos pessoais. Pessoais, detalhe. Pois outras pessoas podem ter diferentes soluções - ou simplesmente preferirem que o tempo "interior" passe mais rápido.

2 comentários:

  1. Oi Belisário,
    Concordo completamente com vc. E tenho outra dica: focar no q está fazendo, sem pensar na/s tarefa/s seguinte/s.
    Um desafio, veja se vc consegue:
    http://www.donothingfor2minutes.com/
    Bjs,
    Rosely.

    ResponderExcluir
  2. Conseguiii...! Nossa. Depois de uns 2 "fails", mas valeu. (Putz, quanto tempo dura 2 minutos!) E juro que não olhei para o popup do Echofon do Twitter, que resolveu dar surto bem na hora. E... que interessante, parece que as ondas começam a se mexer depois do primeiro minuto e meio...! :)

    ResponderExcluir