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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ciência de ponta contra a intoxicação por salicilato

Bem, vamos ver se consigo dividir com os leitores o conteúdo de um artigo que li ontem, do Lauro Kubota, do Instituto de Química da Unicamp. É sobre um biossensor para detectar salicilato no sangue. A fonte mais conhecida de salicilato é a aspirina, mas em doses excessivas, pode se tornar tóxico. Quando alguém tem que tomar quantidade relativamente grande de aspirina para algum tratamento, é preciso monitorar o nível de salicilato no seu sangue.

O problema é fazer um detector simples, portável e barato. A equipe de Kubota pesquisou um "biossensor", isto é, um sistema que usa materiais biológicos. No caso, o material biológico é uma enzima. Esse tipo de biossensor vem sendo pesquisado no mundo todo desde o fim dos anos 1990, mas ainda está difícil adaptá-lo às exigências do mercado para poder ser comercializado. O que a equipe do Kubota fez foi exatamente isso, construir um que, segundo seu artigo, poderá chegar ao comércio.

No biossensor construído por Kubota, a enzima é colocada sobre eletrodos de ouro, os quais estão presos em uma plaquinha de poliéster. Quando uma gota de sangue é pingada sobre o eletrodo, se houver salicilato, este reage com a enzima e o eletrodo transforma o sinal químico em uma pequena corrente elétrica, que é então convertida em um número em um visor (por isso é chamado "biossensor amperométrico").

Os eletrodos possuem tamanhos pouco maiores que um milímetro cada um - é um microdispositivo bem pequeno. Parece que ele poderá satisfazer algumas das principais exigências do mercado: tamanho, simplicidade, custo, ser produzido em massa sem variar muito suas características. Nem tudo são flores, porém: os cientistas viram que, depois de quatro meses, é necessário reidratá-lo toda vez que for usado para manter sua eficiência - ou seja, não pode mais ser usado rapidamente, à queima-roupa. Mas talvez isso possa ser melhorado com aperfeiçoamentos.

Uma coisa interessante é que o artigo não se resume a mostrar o resultado final, mas descreve as várias tentativas dos pesquisadores até conseguirem esse resultado. Tentaram vários reagentes, vários tamanhos para os eletrodos, vários materiais para a plaquinha onde eles ficam montados (vidro, resinas, plásticos). Foi preciso acrescentar várias substâncias junto com a enzima, para fixá-la em uma matriz sólida sobre o eletrodo, para manter a acidez constante e para tornar o sistema biocompatível. Se certo componente químico estivesse em excesso, a camada com a enzima rachava. No final, conseguiram que o aparelhinho desse os mesmos resultados que outros maiores e mais caros - só que este é menor e mais barato.

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