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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Nanociência contra a poluição química

Sabem aquelas histórias em que alguém é miniaturizado por uma máquina fantástica e aí enfrenta micróbios gigantes e coisa e tal? Bem, ninguém ainda inventou nada assim, mas os cientistas já descobriram que, se miniaturizarmos um pouco mais que isso, o mundo seria bem mais surpreendente para nosso herói do que dizem os livros de ficção. O que a “nanociência” vem mostrando é que, na verdade, as características das substâncias mudariam muito. Ferro deixaria de se comportar como ferro, água deixaria de ter as virtudes da água e o ouro pareceria qualquer coisa, menos o velho nobre e dourado metal.

Quando ferro, ouro etc. aparecem como partículas de poucos átomos de diâmetro - “nanopartículas” -, suas propriedades mudam completamente. Os químicos é que devem ter adorado isso. Afinal, é como se subitamente tivéssemos descoberto todo um conjunto de novos materiais com propriedades novas. O que se pode fazer com eles? Será que podem contribuir a resolver grandes problemas da humanidade? Tal como a poluição química?

A química Liane Rossi e mais um químico e um físico de São Paulo acreditam que sim. Tive que analisar nos últimos dias um artigo científico deles do ano passado, que tem um estudo sobre nanopartículas que pode ser aplicado para diminuir a poluição de indústrias químicas e farmacêuticas. Como se sabe, elas produzem diversas substâncias nocivas ao meio-ambiente. As nanopartículas podem ajudar a melhorar isso. Quando alguns reagentes químicos usados nessas indústrias são trocados por certas nanopartículas, surgem bem menos substâncias perigosas no final.

Uma das nanopartículas que podem fazer isso é justamente a de ouro. Se você usar ouro comum, não acontecerá nada. Mas, se usá-lo na forma de partículas com uns poucos átomos de diâmetro, ele pode substituir várias substâncias nocivas como catalisador. Permanganatos, dióxido de manganês e cromo estão entre os compostos químicos que potencialmente poderiam ser ser evitados.

Mais interessante ainda é se as nanopartículas puderem ser recuperadas depois das reações químicas para poderem ser reutilizadas depois. O problema é como separá-las da maçaroca química. O que os paulistas fizeram foi mostrar que dá para fazer isso atraindo-as com ímas.

Mas espere um pouco, o ouro não é atraído pelo ímã! Pois é. Então os cientistas deram um jeito de fazer nanopartículas maiores, de óxido de ferro, com uma camada de sílica em volta – e, dentro da sílica, estão as nanopartículas de ouro. Veja a figura no início deste texto, ela esquematiza essa "nanoparticulona". O que o ímã vai atrair é o óxido de ferro – e o ouro vai junto. Depois, é só usá-lo novamente.

Bem, isso é um tijolinho no meio de grandes edifícios. Vão se seguir novas pesquisas, aperfeiçoamentos, vão se explorar novas nanopartículas etc... Eu gosto de falar dos tijolinhos da ciência, ao invés de apenas das grandes descobertas fundamentais. Estas só foram feitas por causa dos zilhões de tijolinhos anteriores. A maior parte do que sabemos deve-se aos inúmeros tijolinhos empilhados no caldo da história.

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