
Acontece que a energia do núcleo de carbono é muito menor que a do hélio e a do berílio somadas. Pelas leis que regem as reações nucleares, isso torna extremamente improvável que a reação ocorra. E o carbono seria raríssimo.
A salvação está numa peculiar coincidência. O carbono, assim como qualquer outro núcleo atômico, possui um conjunto de outros estados com energias mais altas. Ele não pode ter qualquer energia, mas apenas algumas específicas. Uma dessas é - bingo! - quase igual à necessária para a reação ocorrer!
Por causa dessa coincidência, o carbono se forma abundantemente junto com oxigênio no interior das estrelas, e a vida na Terra (e sabe-se lá onde mais) pôde surgir.
Não há nenhuma lei da física conhecida que obrigue isso a acontecer. Na verdade, seria uma surpresa se tal lei existisse: pois pareceria uma lei física "construída" especificamente para que a vida pudesse surgir. O buraco é bem mais embaixo...
Falo mais detalhes no A Física se Move.
Post-scriptum: Há uma explicação possível. Talvez os parâmetros físicos de que dependem as energias do núcleo de carbono (constante de Planck, velocidade da luz no vácuo, massas das partículas elementares) sejam diferentes em regiões muito distantes do cosmo (muito mais distantes do que até onde os telescópios conseguem enxergar), de modo que necessariamente só poderíamos ter nascido onde ela tivesse a energia "certa". Ou então pode ser que elas variem no tempo. Só poderíamos então ter nascido numa época específica em que a energia seria a "correta" (como parece que os parâmetros não variaram muito desde perto do Big-Bang até hoje, isso só faria sentido em teorias alternativas de universos cíclicos, pulsantes, com vários Big-Bangs sucessivos). Essas hipóteses fazem parte de um tipo de raciocínio conhecido como "princípio antrópico".
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