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quinta-feira, 17 de março de 2011

A importância das ciências sociais para o desenvolvimento

Até que enfim alguém disse isso! Foi num artigo de Jonathan Harle, da Associação de Universidades da Comunidade Britânica, para o Scidev. Ele se centra na socidade africana, mas as lições são muito gerais. Logo no início, ele adverte: "Os avanços nas ciências naturais sozinhos não levarão ao desenvolvimento: as pessoas e suas sociedades são mais complexas que isso."

Sim, na contra-mão da mentalidade tecnologicista atual, é necessário também investimento em ciências sociais. Uma boa razão é que "as reações das pessoas à ciência e à tecnologia são influenciadas pela sua cultura, pelas suas instituições e pelas suas crenças", nas palavras de Harle. Por exemplo, para as novas técnicas agrícolas poderem combater a fome eficientemente, elas precisam ser acompanhadas de conhecimentos sobre como as pessoas manejam sua própria insegurança nutricional.

Mas há muitos outros motivos, que chegam a ser evidentes - mas precisam ser ditos. A prevenção e o combate às doenças precisa tanto de médicos como se sociólogos. A melhoria das condições nas grandes cidades precisa não só de engenheiros, mas também de gente com conhecimento suficiente em redes sociais (falo das reais, não das virtuais!) e sobre mudanças de espaços urbanos. O conceito de rede social é central nas abordagens sociológicas e há várias disponíveis, adaptadas para vários casos.

O autor cita também conhecimentos sobre novas formas de liderança e governo; eu daria igualmente ênfase nas estratégias de formulação e gestão de políticas públicas, aliadas a técnicas de diagnóstico e dimensionamento de problemas sociais - o que inclui pesquisas de campo, principalmente de cunho demográfico, a fim de garantir que as estratégias sejam adequadas à realidade o mais possível. Lembrando que as pesquisas "de cunho demográfico" são interdisciplinares - para que seus resultados tenham algum significado e possam ser transformados em ações concretas, precisam ser articulados com conhecimentos antropológicos e modelos sociológicos.

Diante do caráter fortemente multiétnico de grande parte dos países africanos, para dar conta das respostas das pessoas às novas técnicas científicas é preciso conhecimento a respeito de suas percepções sobre sua identidade cultural. Isso implica em estudos antropológicos e sobre história.

Nem só na África. Lembremos que o Brasil também é multiétnico.

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