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terça-feira, 22 de março de 2011

Um diagrama para doses de radiação

Quanta radiação recebo se morar perto de uma usina nuclear? E ao fazer uma chapa de raios-X? Não basta dizer que radiação existe, é preciso especificar a quantidade. Um diagrama feito pelo físico Randall Munroe e divulgado anteontem dá boas informações sobre isso (vejam também comentários dele aqui).

Primeiro, é preciso dizer que radiação ionizante (o tipo mais perigoso) existe literalmente em qualquer lugar. É emitida naturalmente pela terra, pelo ar e até pelo próprio corpo humano. No entanto, no dia-a-dia, as doses são muito pequenas, insuficientes para causar danos. O próprio organismo tem mecanismos para regenerar qualquer estrago. O problema aparece quando elas ultrapassam certo limite. Para a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, esse limite é de um milissievert por ano para uma pessoa "comum" (isto é, que não trabalhe com radiações).

Com uma chapa de raios-X peitoral, o corpo absorve em média 20 microssieverts de uma vez (um microssievert, μSv = um milésimo de milissievert, mSv). Segundo o esquema de Munroe, uma pessoa que mora a 30 quilômetros de uma usina nuclear absorve 0,09 microssievert por ano. Detalhe interessante: isso é 3 vezes menos do que absorve alguém que more pelo mesmo período à mesma distância de uma usina de carvão (0,3 microssievert)!

E a 30 quilômetros de Fukushima? Vejam este dado: Dose absorvida em um dia (não em um ano!) em dois locais a 30 quilômetros a noroeste de Fukushima em 16 de março, observados novamente no dia 17: aproximadamente 3,6 milissieverts. Isso é 14,6 milhões de vezes a de uma usina "saudável" (lembre que o dado acima da usina saudável está em microsieverts por ano).

Aqui, há duas coisas importantes. Primeiro, ele especificou a distância: 30 quilômetros. As notícias que vimos raramente faziam isso. Acontece que a exposição à radiação descresce com o quadrado da distância. Ao dobro da distância (60 km), a radiação decresceria 4 vezes (0,9 mSv). Ao triplo da distância, diminuiria 9 vezes. E assim por diante (cuidado: muitos jornais estão escrevendo mSv para microssieverts. Microssieverts é μSv).

Segundo: e aquela infromação dos 400 mSv por hora que apareceu nos jornais? Isso foi nas proximidades do reator, não a 30 quilômetros dele. Não encontrei informação precisa sobre a distância. Isso é ruim, pois não dá uma dimensão do que aconteceu.

Outro diagrama, de Ellen McMannis, operadora sênior de reatores do Reed College nos EUA, também pode ser útil. Esta tabela do Wikipedia também é interessante.

Posts relacionados: Ajuda a jornalistas sobre radiação, usinas nucleares etc. (15/03/2011)

2 comentários:

  1. Roberto, uma amiga, a Naoko, que mora no Japão, leu seu texto. Aqui estão os dizeres dela:
    " Muito interessante pra mim, naturalmente! Salvei esses diagramas no meu computador. Obrigada! Bjs"

    Acho que isso já diz tudo.
    Parabéns.

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  2. Que bom que foi útil! As informações no Brasil estavam a maior confusão; estão melhorando agora. Como tenho muitos amigos jornalistas no Twitter, pude observar o estado de polvorosa em que eles ficaram com a rapidez dos acontecimentos. Alguns saindo da redação só de madrugada.

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