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sábado, 26 de março de 2011

Mulheres na ciência: reconhecimentos e esquecimentos

A Nasa acabou de lançar o site Women@Nasa, com biografias de mulheres cientistas que trabalham lá. Um dos casos mais interessantes é o de QuynhGiao Nguyen, que emigrou do Vietnã para os EUA quando tinha 7 anos de idade, sem falar uma palavra de inglês. Que sirva como estímulo para a inserção feminina na comunidade científica e no resto da sociedade - que ainda tem muito caminho à frente para chegar num igualitarismo aceitável.

Como minha formação é em física, imediatamente me lembrei do caso de Marie Curie (1867-1934), que emigrou da Polônia para Paris em 1891 e ali se tornou uma física respeitada na área da radioatividade, a ponto de ter sido a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel (1903) e a primeira pessoa a ganhar dois (outro em 1911, de Química). Na imagem ao lado, um detalhe da foto do Quinto Congresso de Solvay, de física, ela pode ser vista sentada conversando com o maior matemático de sua época, Henri Poincaré, observados por Albert Einstein de pé na extremidade direita.

Naturalmente, ser reconhecida pelo futuro afora é privilégio dos grandes feitos, e não de trajetórias interrompidas. Mileva Maric (1875-1948) é lembrada como a primeira esposa de Einstein, mas foi também uma das primeiras mulheres a estudar física e matemática na Europa. Foi uma aluna brilhante; nos exames intermediários do curso na Universidade Politécnica de Zurique, tirou a mesma nota em física que Einstein, então seu colega de classe (5,5 - a nota máxima era 6,0). No entanto, acabou tendo que substituir a pesquisa pela vida conjugal, cuidando dos filhos, e interrompeu sua carreira. O que não lhe garantiu boa sorte: foi abandonada por Einstein, que foi morar com sua prima Elza Löwenthal.

Em 1943, apenas duas pessoas se formaram ana USP - César Lattes, considerado o maior físico brasileiro, e uma moça chamada Sonja Ashauer. Sonja também teve carreira muito promissora, tendo sido a primeira mulher brasileira a conseguir o Ph.D. em Cambridge, orientada por Paul Dirac, um dos maiores físicos do século XX (mais conhecido por ter formulado o conceito de antimateria, mas também por ter feito a primeira teoria quântico-relativística).

Conviveu com o time que fundou a pesquisa em física no Brasil, como Gleb Wataghin (considerado o pai da física brasileira), César Lattes e José Leite Lopes, e é lembrada com carinho e admiração por esses cientistas. Porém, faleceu súbita e prematuramente meses depois de conseguir o título. Hoje, é uma personagem amplamente desconhecida dos brasileiros. Algo sobre ela aparece neste site da revista ComCiência (use a barra de rolagem).

Sobre as trajetórias daquelas que conseguiram seu lugar no mundo masculino, aparecem boas referências com uma pesquisa no Google por "mulheres na ciência".

Congresso de física em Dublin; Dirac é o quatro sentado da esq. para a dir.; Sônja Ashauer está atrás dele, à direita. [Acervo de Nils Ashauer/cópia no Instituto de Física da USP]. Fonte: Os cinquenta anos do méson pi.

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