Controle sua geladeira com seu iPad. Carregue seu carro elétrico no estacionamento do hotel. Veja quanto você está consumindo de energia em tempo real pela Internet. Estas são as partes mais visíveis de um novo conceito de sistema elétrico que está sendo implantado no mundo todo, inclusive no Brasil, as "redes elétricas inteligentes" ou Smart Grids.
Estive no evento de lançamento de um projeto brasileiro para implantação desse sistema - o ClimaGrid -, em dezembro passado em São Paulo. Escrevi uma matéria para a Ciência & Cultura. A ideia original é diminuir os riscos de apagões não apenas com o aumento da produção, mas com um gerenciamento melhor do consumo.
Não se trata de resumirmo-nos a conscientizar pessoas "como eu e você" para economizar - estratégia da polêmica Hora do Planeta da semana passada -, mas de um sistema mais eficiente baseado na informação. Por um lado, se as pessoas tiverem acesso em tempo real ao quanto consome cada aparelho seu em cada momento, teoricamente poderão gerenciar melhor seus gastos energéticos. Por outro, o próprio sistema elétrico terá muito mais flexibilidade para deslocar o fluxo de energia de um lado para outro para suprir demandas maiores aqui e ali - e assim evitar apagões.
Dá para ter uma ideia do que isso significa neste infográfico interativo do sistema de Évora, em Portugal (cidade onde já foi implantado). Nele, vê-se as três características principais do sistema: primeiro, a geração distribuída - a energia é produzida em pequenas unidades em inúmeros locais. Diminui o risco de um apagão geral.
Segundo, a chamada "distribuição virtal" - a energia é distribuída de modo análogo ao modo como a Internet distribui informação, sem "saber" onde ela é produzida ou consumida. No gráfico, você pode tirar e pôr casas e unidades geradoras solares e eólicas para ver como a distribuição se adequa automaticamente, evitando sobrecargas.
E, terceiro, a mobilidade elétrica: você pode carregar seu carro elétrico ou controlar eletrodomésticos e outros aparelhos à distância.
O Brasil mergulhou de cabeça e inovou com a inclusão de dados maciços sobre clima no sistema - é o ClimaGrid. Além disso, há diversos projetos em andamento - o governo está inclusive trocando os medidores comuns por "medidores inteligenetes", adaptados à nova rede. Empresas também estão gastando milhões para se adptarem.
Repare que para tudo isso o sistema gerencia quantidades maciças de dados sobre a vida das pessoas. Veja o que disse um funcionário da Siemens, Martin Pollock: que sua empresa tem hoje tecnologia para "inferir quantas pessoas estão na casa, o que fazem, se estão no andar de cima ou no de baixo, se têm cachorro, quando você normalmente acorda, quando toma banho".
Até as próprias empresas estão preocupadas com uma nova ameaça à privacidade, com medo de perder clientes. No fim das contas, o perigo é que o sistema avance mais rápido que as regulamentações legais consigam acompanhar. Já vimos esse filme na Internet. Lá vamos nós outra vez.
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