
O modo pelo qual James Watson e Francis Crick conseguiram vislumbrar a estrutura em hélice do DNA é bem diferente de tirar uma chapa de radiografia. Ao invés de ver os raios-X atravessarem o DNA, eles viram-no refletir nele. Quando raios-X refletem em alguma coisa, eles passam a carregar consigo informações sobre a estrutura íntima da matéria em que refletiram. É só saber interpretar. Esse método chama-se difração de raios-X. Em certas condições, é possível com ele identificar a própria posição de cada átomo.
Poderoso, não? Há mais. Outras técnicas com raios-X podem revelar informações do interior dos átomos e moléculas: as energias dos seus elétrons, ou então quantos átomos estão na vizinhança de um certo átomo, ou com que átomos ele está ligado, ou então o campo magnético de seus elétrons...
Cada método explora um jeito de os raios-X interagirem com a matéria: passando rasante, ou então arrancando elétrons, ou então interagindo com os campos magnéticos, ou sendo polarizados (sim, como a luz polarizada). Eles atendem por siglas "com X", como EXAFS, XANES, XPS, SAXS, XMCD etc... Boa parte do que se faz em laboratórios de física é esse tipo de estudo.
A utilidade de tudo isso vai muito além de estudar a estrutura de átomos e moléculas. Em certas condições, dá para descobrir a composição química de uma substância sem precisar fazer nenhuma reação química para isso. Mas o mais interessante é que, com essas informações, os cientistas podem montar um verdadeiro quebra-cabeças e descobrir novos fenômenos físicos desconhecidos, procurar explicações para fenômenos ainda misteriosos, construir novos materiais com propriedades inéditas (novos supercondutores, por exemplo!), fabricar nano-objetos (ou seja, objetos com apenas algumas poucas dezeanas de átomos de diâmetro - e a nova e efervescente área da nanociência) etc...
E, como se não bastasse, há também a astronomia de raios-X! Agora, ao invés de pesquisar o muito pequeno, vai-se para o muito grande. Nossos telescópios "a olho" mostram apenas o que a luz visível pode mostrar. Mas os astros emitem de tudo, inclusive raios-X. Muita coisa invisível pode se tornar visível com raios-X, incluindo buracos negros (não ele em si, mas a matéria que cai nele, que emite raios-X como num "canto do cisne" antes de mergulhar no seu destino fatal).
Bem, escrevi isto porque recentemente tive que fazer algumas entrevistas e ler alguns trabalhos científicos cheios de tais métodos (comentei um deles aqui; e outro neste texto mais técnico), o que me deixou deveras impressionado com a extensão das possibilidades desses raios-X. E quis dividir um pouco essa sensação com quem não é físico. Até a próxima...
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